HISTORIAS

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Hoje Não é Dia de Caça!


Bernardo quando não estava na lida com a roça gostava de ir caçar. Pegava a espingarda, velha companheira de aventuras, e cuidava para que ela não o deixasse na mão na hora H.
Limpava, via os cartuchos que eram carregados com pólvora e chumbo, arrumava com capricho a munição e colocava tudo em uma espécie de bolsa de tamanho médio feita em tecido de algodão grosso.
As crianças se mantinham curiosas, mas conservavam uma certa distância, ele ensinara que aquilo não era brincadeira de criança.
E ficavam esperando que ele partisse para a mata e voltasse com boa caça.
Naquele dia porém, sua mulher que era muito religiosa o advertiu: - não vá caçar! Hoje não é dia disso, estamos na Semana Santa e os Cristãos só devem comer peixe.
Bernardo porém, não deu muito ouvido à sua mulher, ele queria ir caçar e ia, há várias tardes que ele ouvia lá pelas bandas da mata o pio de um inhambú, ele iria atrás deste belo e gostoso pássaro.
E assim pegou sua matula ( nome dado a bolsa que ele levava a munição) e foi assoviando até sumir na mata. A mulher como sempre ficou a rezar pelo marido, que nada de mal acontecesse a ele.
Assim passou-se a tarde e chegou a noite. Antes do anoitecer ainda se ouvia na mata a algazarra dos passarinhos voltando para seu ninho. Depois só a escuridão e uma lua que naquele dia cortava pálida uma nuvem de fumaça no céu.
A mulher de Bernardo já fizera o jantar e serviu para as crianças, mas ela não comera, tinha o hábito de esperar o marido voltar. Sentada perto do fogão a lenha vendo suas chamas a trepidar, inúmeras coisas passavam pelo seu pensamento: - onde estaria Bernardo até aquela hora? De certo se afastara muito em busca do tal passarinho.
Ainda demorou mais um pouco e eis que Bernardo chega. Estava cansado e meio pálido, não trazia caça alguma.
Fez sua higiene como de costume, mas estava muito calado e a mulher nem tinha coragem de puxar prosa. Ela já conhecia muito bem o marido e sabia que aquela caçada tinha ido mal.
Naquela noite ele não quis o jantar que estava quentinho na trempe do fogão. Estava sem fome. Pediu um café e logo o aroma delicioso daquela bebida tomou conta da pequena casa. Pegou a caneca e foi sentar-se no borralho do fogão. Sorveu silenciosamente de gole em gole o café, depois tirou um cigarro acendeu nas brasas do fogão e pensativo soltava grandes baforadas de fumaça.
Sua mulher permaneçeu calada, mas esperava que ele se abrisse e falasse o que o estava perturbando tanto.
Depois de um certo tempo em silêncio, como que a tomar coragem para começar o assunto, ele finalmente resolveu falar.
_ Sabe mulher você tinha razão hoje não era mesmo dia de caça! Você sabe que eu não erro nem um tiro sequer, a mulher ouvia-o e respondia apenas com um aceno de cabeça. Continuou ele: eu fui atrás daquela ave a qual ouvia seu canto todas as tardes desta semana. Pois bem, assim que entrei na mata eu a ouvi e fui seguindo-a até tê-la em minha mira. Estava à pouca distância não erraria o tiro, seria um tiro certeiro. Mirei e (BAM) atirei, vi ela despencar da árvore que estava pousada, corri para pegar, mas quando lá cheguei nada encontrei. Olhei e no lugar tinha um enorme sapo cravejado de chumbo. Me senti muito mal naquele momento, lembrando de suas palavras. Custei me recompor e pegar o caminho de volta, a imagem daquele sapo não sai do meu pensamento, parece um aviso e eu não sei do que.
A mulher que até aquele momento ouvira calada disse em voz baixa: eu te avisei, mas você é muito teimoso, hoje não é dia de caça. Vamos ficar juntos e rezar esta semana é de oração, pois Nosso Senhor morreu por nós. Bernardo não entendia muito daquilo, mas entendia muito da natureza e aquela noite ela se voltara contra ele e ele aprendeu a lição, nunca mais foi caçar quando era Semana Santa.E nunca esqueceu aquele enorme sapo crivado de chumbo.
Oficina do Gif

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