HISTORIAS

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A FÁBULA DA ONÇA E O GATO

   
As crianças já estavam todas sentadas à espera da história da noite, com seus olhinhos brilhando de curiosidade. Bernardo sentou-se em um banquinho perto do fogão à lenha, as labaredas que subiam em formas de línguas de fogo balançadas por um vento que soprava pelas frestas da janela, projetavam na parede, sua sombra um pouco distorcida. 
   O ambiente da cozinha ficava aquelas horas, envolto numa penumbra entre o clarão do fogão e a luz trêmula do pequeno lampião à querosene. Aquele ambiente era favorável ao encantamento, ao mágico. Tudo era possível e lógico, bastando para tanto a voz de Bernardo:
Era uma vez, uma onça que aproximou-se de um gato e astuta     fez-se de mansinha e confiável. 
_ Oh! Senhor gato como admiro sua agilidade! Dizia, fazendo com que, o gato ficasse muito vaidoso. De elogio pra lá e elogio pra cá a onça convenceu o gato a ensiná-la, os seus admiráveis pulos.
Assim passaram os dias, o gato ensinou a onça a pular para um lado e para o outro. A cair em pé e a onça aprendia tudo muito bem.
   Até que um dia, ela achou que já estava pronta, que havia aprendido todos os pulos do gato, e pulou em cima dele com suas garras enormes. O gato deu um salto para trás e escapou. A onça admirada disse:
_ Oh senhor gato este não me ensinaste!
O gato já longe e em segurança responde:
_ É dona onça e se eu estivesse te ensinado tudo, você teria me comido!
E terminava um tanto misterioso:
É crianças não se ensina o pulo do gato!


Alfaiate valente

Era começo da primavera e da mata exalava o perfume das flores. A dama da noite com seu perfume  enchia os arredores. As crianças de Bernardo imaginavam uma linda mulher encantada que se transformara naquela árvore e  à noite seu perfume era sentindo de longe.Diziam que ela tinha o poder de sedução e não era aconselhável ficar sentindo o seu cheiro doce e inebriante.        
Bernardo chegou, e após abençoar seu filhos,  todos jantaram e ele aproveitou a noite amena da serra para apreciar a lua, que com sua luz tornava cor de prata a mata. As crianças o seguia, umas penduradas nos braços, outras sentadas em seu colo.
Bernardo olhou para a lua e apontando-a disse: olha o dragão e São Jorge. As crianças olhavam para ela e não restava menor dúvida lá estava São Jorge e o dragão. 
Bernardo aproveitou a admiração das crianças pela coragem de São Jorge, para contar-lhes a história de um homem muito corajoso.
Era uma vez em um pequeno vilarejo, morava um pequeno homem, Chamado João que trabalhava como alfaiate. Passava ele, dias e dias a cortar e a costurar e já estava ficando um tanto quanto entediado com sua rotina. 
Um certo dia derramou acidentalmente em sua mesa , um pouco de melado e logo as moscas vieram pousar atrapalhando seu trabalho. Irritado deu um golpe com um pedaço de pano matando sete moscas em um só golpe.  Ficou ali por uns instantes contando as moscas caídas e resolveu escrever em seu cinto: matei sete num só golpe.
Naquela tarde ao fechar a alfaiataria notou que as pessoas o olhavam admiradas.
 — Olha ele matou sete num golpe só! comentavam admirados.  E o boato foi se espalhando pelos arredores e a cada conto como diz o ditado, se aumenta um ponto, já tinha gente jurando que ele matara sete gigantes.
 João resolveu aproveitar este momento de fama e saiu para viajar. Foi assim que no meio do caminho, encontrou um passarinho que havia caído do ninho, pegou o pequeno passarinho e o colocou em sua bolsa.
Mais tarde, passou por uma venda, e comprou um queijo para a viagem e alguns pães. Continuou seu caminho repartindo os farelos de pão com o passarinho.
Depois de muito caminhar chegou em uma cidade que parecia muito triste, as pessoas cedo se recolhiam fechando portas e janelas. João ficou curioso e logo quis saber o que acontecia ali.
Ficou sabendo, que havia  um terrível gigante, que atacava a cidade e para que tal coisa não acontecesse os moradores teriam que sacrificar uma bela donzela entregando-a ao gigante. Já estava acabando as moças do lugar e as poucas que ficaram viviam tristes, não sorriam, não cantavam e nem dançavam como antes faziam. 
Mais triste é que desta vez a sorteada era a linda princesa, não havia no reino moça mais bonita. O rei já havia oferecido um prêmio para o rapaz que derrotasse o terrível gigante, mas ninguém apareceu.
O pequeno alfaiate teve a ideia de se apresentar ao rei. Chegando ao palácio o rei notou o que estava escrito em seu cinto: "Matei sete num só golpe", mas duvidou que aquele sujeito tão franzino fosse capaz de vencer o gigante. Por isto prometeu que daria o que o alfaiate quisesse.
O alfaiate que já estava encantado com a princesa  pediu sua mão em casamento, caso vencesse a batalha,  o rei de pronto aceitou o acordo.
João voltou para cidade e disse a todos que ia ao encontro do gigante, logo o boato se espalhou e diziam:
— Ele já matou sete gigantes num só golpe. 
E assim a fama de João se espalhava rapidamente.
O gigante também ficou sabendo e veio furioso ao encontro do pequeno alfaiate, que caminhava tranquilo pelos arredores do palácio.
João de longe ouviu as passadas pesadas do gigante fazendo estremecer o chão, ao vê-lo ficou impressionado pelo tamanho e feiúra do gigante. O gigante por sua vez, riu de ver o seu oponente um pequeno homem, tão franzino.
Fanfarrão bateu no peito e disse:
— KKKKK É você que estava a minha procura? Já encontrou e vou acabar com você, vou apertá-lo e esmagar os teus ossos!
João olhou para cima e viu que o gigante era tão alto que ficava acima das serras, esperto disse:
—Te proponho uma competição, se você ganhar pode fazer  o que quiser comigo e levar a princesa. O gigante aceitou sem pestanejar certo da vitória.
João propôs ao gigante a primeira prova: Aquele que jogar uma pedra mais longe.
O gigante pegou uma pedra e arremessou tão longe que passou por cima das serras. 
João muito esperto tirou o passarinho que levava consigo, aquele que caíra do ninho e João havia cuidado dele o tempo todo com suas migalhas de pão, e o jogou para cima. Tão logo o passarinho se viu livre voou tão alto que sumiu nas nuvens. João ganhou a prova com esta esperteza.
— Agora a prova é esta: quero ver você tirar água da pedra. 
O gigante pegando uma pedra espremeu-a com tanta força que a esmagou, mas não saiu água nenhuma.
João lembrou-se do queijo fresquinho que trazia na mochila. Pegou-o e espremeu o queijo até soltar toda água dele.
 O gigante estava mais bravo. Urrava de raiva. Ele não enxergava muito bem por isso não via as trapaças do João.
João então o desafiou, aproveitando o momento que estava ganhando: — Olha já matei sete num só golpe, mas hoje não estou com vontade, se você for embora para sempre, eu o perdoo.
O gigante não pensou duas vezes e foi embora.
João chegou ao palácio feliz da vida, ia cobrar a promessa do rei. 
O rei pediu para ele ficar no palácio para os preparativos e João achou justo e ficou.
Só que o rei, não estava muito contente, em entregar sua única filha a um simples alfaiate. Mandou chamar seus soldados e deu esta ordem:
—Esperem João dormir e sumam com ele daqui, façam o que quiserem, mas não quero vê-lo de novo.
Só que a princesa escondida ouviu a conversa do rei e ela já estava gostando muito do João e não queria que nada de mal lhe acontecesse, por isto procurou-o alertando-o:
— Vá embora João, o meu pai mandou os soldados te matar hoje à noite quando fores dormir.
João que afinal era valente mesmo, não quis saber de fugir, por mais que a princesa pedisse. 
—Eu vou ficar e lutar, seu pai vai ter que honrar o compromisso.
João retirou-se após o jantar para o quarto, arrumou a cama e ficou escondido esperando.
Os soldados do rei entraram e deram terríveis golpes de espada na cama, pensando ali estar João dormindo. João caiu em cima deles de porrete e gritando matei sete gigante num só golpe e fiz um sair daqui correndo, o que são vocês soldadinhos? 
Os soldados ficaram apavorados com a surpresa, que fugiram do palácio sem olhar para trás.
No dia seguinte João foi ter com o rei e disse-lhe:
—Honra tua palavra e me dê sua filha em casamento. O rei viu que não ia ter jeito e aceitou que João se casasse com sua filha.
Foi um festão e eles viveram felizes para sempre.

Esta história que Bernardo contava à maneira dele, era dos contos populares dos irmãos Grimm.