HISTORIAS

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Folia de Reis


O Natal se aproxima, o colorido dos enfeites nas vitrines, as luzes que piscam nas ruas e nas casas parecendo estrelinhas no céu, o corre corre das pessoas em seus preparativos para esta grande festa, tudo parece magia. Há no ar uma suave e doce melodia que torna as pessoas mais amáveis e solidárias, com um coração que pulsa com mais força, na alegria da espera de mais um Natal.
É Natal que vem chegando, trazendo Aquele Menino Deus que trouxe a Salvação e a Esperança para a humanidade.
Por um momento, volto ao passado e vejo um casebre de palha, que também alegre espera o Natal que vai chegar. É a casa de Bernardo lá no alto da Serra, bem pertinho das estrelas que brilhavam num céu azul. Não há enfeites, nem árvore de natal com pisca pisca e bolinhas coloridas. As árvores estão nas matas que brilham sob a luz do luar. O pisca pisca são pirilampos que piscam voando na noite.
 Da janela suas crianças olham, aquele espetáculo da natureza, com o mesmo encanto e brilho no olhar que hoje, aparece nos olhos de nossas crianças ao ver uma cidade iluminada com os enfeites de natal.
Não há espera por Papai Noel ele não tem importância naquele casebre, pois nunca apareceu por lá.
O presépio fica em um humilde oratório com imagens de Santos, Maria, José e o Menino.
As suas crianças, esperavam ansiosas uma visita, que vinha especialmente para visitar este pequeno presépio: é a Folia de Reis. Homens, mulheres e crianças nesta época andavam de casa em casa saudando o Menino. Eles ( a folia) poderiam chegar a qualquer hora, de dia ou de noite e por isto elas ficavam sempre atentas, à espera. Ao menor som da música todos iam ao encontro recebê-la com alegria.
A folia entrava pedindo licença ao dono da casa, com seus instrumentos, cantoria e os palhaços que as vezes apavorava os menores.
Depois da cantoria Bernardo oferecia café com broa ou torradas. Naqueles dias para Bernardo e suas crianças, isto bastava para um Natal feliz.
Difícil imaginar nos nossos dias esta magia da Folia de Reis como Bernardo viveu, mas procurando achei no youtube postado pela catolicospelafe.net uma folia de reis de Lídice, RJ denominada Folia de Reis João Alves e Filho. Vale a pena ver o vídeo é tradição pura, revivendo os tempos de Bernardo.

O rei e a rainha que vai bugiar

Era agosto e no alto da serra o vento soprava forte, com seu uivo que mais parecia um bicho. O sol não tinha tanta força para aquecer, diante daquela ventania e assim o dia passou e a noite ia cobrindo com suas sombras e o uivar do vento se tornava mais assustador. Bernardo chega ao anoitecer, como sempre quer a presença de seus filhos um por um. Os abençoa e vai tomar seu cafezinho na cozinha à beira do fogão à lenha. O cheirinho do café invadia a casa toda e Bernardo o sorvia devagarinho saboreando cada gole. O vento lá fora continuava a uivar e fazer tremer portas e janelas. O jantar estava quase pronto, logo estariam todos reunidos mais uma vez em volta de Bernardo para ouvir seus casos e suas histórias. 

Neste dia Bernardo contou esta história:

Era uma vez, um reino onde pertinho do palácio ficava uma pequena casinha de sapê. Diante do suntuoso palácio, a casinha simples e modesta parecia incomodar os olhos de alguns súditos do poderoso rei. Eles sempre iam ter com o rei e comentavam que aquela casinha tão pobre, não podia ficar ali, tão perto do palácio real onde só havia coisas belas e de extremo valor. O rei tentando agradar a seus súditos, mas sem querer fazer mal a uma agradável velhinha que morava naquela casinha, mandou que seus empregados a trouxesse para viver no seu incrível palácio.
Foi assim que a pobre velhinha acompanhou os empregados do rei, pois não se nega um pedido real e deixou sua casinha indo morar no palácio. O rei, no entanto, ordenou a seus empregados que deixassem a casinha como estava sem mexer em nada, pois sua dona poderia ficar magoada se a derrubassem de imediato, dizendo que tudo tinha seu tempo.
A doce velhinha era muito bem tratada pelo rei e pela rainha que gostavam de sua companhia e de ouvir seus casos, mas alguma coisa havia mudado. Ela já não era feliz como antes quando vivia em sua humilde casinha. Seus olhos não tinham o mesmo brilho e seu sorriso parecia triste e forçado.
O rei um dia a chamou e disse: __ minha senhora o que pode seu rei fazer para vê-la contente como antes?
A velhinha respondeu meio sem jeito. __ meu senhor rei me perdoe, mas eu estou sentindo muita falta de minha casinha.
O rei imediatamente mandou chamar um empregado dando-lhe ordem para que levasse de volta a tão triste velhinha. Mas sem que a velhinha ouvisse disse ao empregado:
__ Depois que ela tiver em casa, fique por perto e descubra porque ela se sente mais feliz naquele casebre velho do que em meu esplêndido palácio.
 Assim o empregado fez. Deixou a velhinha entrar e ficou olhando-a por um buraco na parede. A velhinha assim que achou que estava só, ria e andava de um lado para o outro levantando as pernas e soltando pum dizia: minha casa é meu palácio o rei com a rainha que vai bugiar! Pum!

E assim Bernardo terminou a história dizendo: mais vale a liberdade em uma casinha de sapê, que viver em palácio alheio. 

A casa do macaco com a onça


Era início de inverno, a serra estava coberta por uma branca neblina desde à tarde. Bernardo chegou do trabalho e iniciou seu velho ritual: sua higiene, seu cafezinho e o cigarrinho de palha perto do fogão à lenha que aquecia e deixava aconchegante. Aquele era o lugar preferido da família nestas tardes frias. A noite logo caiu deixando tudo mais frio ainda. Não havia nem lua e nem estrelas, a escuridão tomou conta de tudo. Após o jantar as crianças umas enroladas em cobertor perto das brasas que aquecia, esperavam com certa impaciência o momento que Bernardo iniciaria a história da noite. Bernardo começou a conversar com eles sobre como era importante ter uma casa aconchegante, como seria ficar lá fora ao relento e que todas as criaturas tinham suas casas para se abrigarem em noites como aquelas. E contou para eles esta história:

A casa do macaco com a onça

O macaco muito esperto andava o dia todo procurando um lugar adequado para fazer sua casa, pois o inverno se aproximava. Andou, andou, mas, não encontrou  lugar algum que o agradasse.
À noite a onça com seus hábitos noturnos andava a procura de um lugar para fazer sua casa, o inverno não tarda a chegar, pensava ela. Andou, andou e achou um lugar muito bom. Era todo plano e passava bem perto uma fonte de águas cristalinas para ela matar a sede. Não pensou duas vezes e se pôs a trabalhar. Trabalhou toda a noite, deixou o terreno limpinho, cansada do trabalho, pois o dia já estava clareando foi tirar um merecido cochilo lá nas pedras mais altas, onde o sol da manhã logo aqueceria.
O macaco acordou cedinho e começou sua procura. Aqui não dá tem muita pedra pensava, aqui não dá tem muito espinho e assim continuou até que se deparou com o terreno que a onça havia limpado à noite. Que beleza! exclamou o macaco, é isto que estou procurando, perfeito e limpinho bem perto da nascente. Vou começar minha casa agora mesmo, sem perder tempo. Cortou os paus para fazer os esteios da casa, bambu para as paredes e cipós para amarrar. O dia passou nesta labuta e ele cansado viu que já era hora de parar para descansar, pois a noite ia chegando.
A onça saiu toda contente depois de um bom dia de descanso, alimentou-se e foi correndo para ver seu terreno e começar a sua tão sonhada casa. Quando chegou ao local viu com surpresa os paus, bambus e cipós que o macaco havia deixado e pensou: que bom! Deus tá me ajudando. Fincou os paus nos quatros cantos e começou a amarrar os bambus. Trabalhou toda a noite e ao clarear o dia foi descansar.
O macaco acordou com o sol fraco e um ventinho que prenunciava a chegada do inverno e pensou: vou correr com a minha construção para dar tempo de fazê-la antes que o inverno chegue. Ao chegar ao terreno viu que as paredes já estavam começadas e pensou: que bom! Deus tá me ajudando. Terminou de amarrar os bambus e pegou terra o suficiente para embolsar a parede. Já era tarde e cansado foi procurar onde dormir.
A noite chegou e a onça ansiosa correu para o terreno para trabalhar na sua tão sonhada casa. E surpresa viu que os bambus já estavam amarrados e até a terra já estava ali e disse: que bom! Deus tá me ajudando.  Pegou a terra misturou com água amassou bem e fez o barro e começou a embolsar a casa. Trabalhou a noite toda e cansada ao amanhecer foi dormir.
Logo cedinho acorda o macaco e saiu correndo para ver sua construção e logo ao chegar viu que as paredes já estavam embolsadas e pensou: que bom! Deus tá me ajudando. E saiu correndo para pegar as palhas para cobrir a casa. Trabalhou o dia todo colhendo palhas levou-as para o terreno e a noite já ia chegando. Ele cansado foi dormir.
A noite chegou e a onça correu para ver sua construção e quando chegou viu as palhas que o macaco tinha colhido e pensou: que bom! Deus tá me ajudando. Pegou o cipó e trançou as palhas para cobrir a casa, colocou as vigas de pau para a cumeeira e cansada retirou-se ao amanhecer.
O macaco mal o sol raiou, pulou e correu para a casa que agora estava quase pronta. Encontrou tudo a ponto de colocar a cobertura e disse: que bom! Deus tá me ajudando e assim terminou a casa. Cansado viu que anoitecia e resolveu voltar para o lugar em que dormia e no dia seguinte mudaria para casa logo que o sol raiasse. Contente e pulando saiu correndo e já longe, ainda voltou-se para admirar sua obra.
Anoiteceu. A noite estava escura e fria, e um vento soprava forte, o inverno havia chegado. A onça saiu e logo estava em sua construção, imaginava que naquela noite terminaria sua obra. Chegou e de longe viu a casa terminada e disse: que bom! Deu está me ajudando e assim poderei caçar a noite toda e ao amanhecer terei uma casa para repousar.
O macaco rodou o dia inteiro à procura de coisas para a casa nova. Foi colher frutas e arrumar bastante palha sequinha para fazer seu ninho quentinho e ao anoitecer chegou feliz da vida em sua casa. Entrou e estranhamente viu que alguém tinha entrado em sua casa. Coçou a cabeça, olhou para um lado, olhou para o outro e tudo estava quieto nenhum barulho se ouvia. Resolveu então ignorar aquela sensação estranha e tratou de fazer seu ninho para aquecer-se.  A noite passou e mais um dia começou trazendo a luz e o barulhinho que faziam todos os animais do dia. Ele contente saiu para trabalhar e trazer seu sustento.
A onça logo chegou a casa abrindo a boca de sono, tinha caçado a noite inteira. Sentiu a mesma sensação do macaco, mas ignorou e logo dormiu no ninho que o macaco fizera.
Vários dias se passaram o macaco com sua vida e a onça com a dela, um de noite e o outro de dia. Mas eles estavam ficando com medo, as coisas apareciam, mudavam de lugar, eram arrumadas sem que eles desconfiassem quem as arrumou e os dois comentavam com seus amigos sobre a estranha casa desde a sua construção, parecia que ela tinha vida própria.

A casa estava se tornando famosa naquela região, todos os bichos contavam da estranha casa e como quem conta um conto aumenta um ponto a casa ficou com fama de mal assombrada. Foi assim, que com medo, tanto o macaco como a onça, desistiu da casa indo passar o resto do inverno em uma toca improvisada. E até hoje quem passar por aquelas bandas irão ver aquela estranha casa abandonada no meio do mato. 

O disfarce do diabo

Bernardo contava esta história dizendo sempre que as aparências às vezes enganam e que nem tudo que parece inocente o é realmente, por isso devemos ficar sempre atentos.
Dizia ele que este caso era relatado pelos mais velhos, que aconteceu há muito tempo não se sabe onde, mas que aconteceu, disto ele e nem ninguém duvidava.
Um casal vivia muito bem, tudo era harmonia naquela casa. O marido muito carinhoso e atencioso e a esposa maravilhosa que cuidava de tudo com muito zelo.  Tudo ia muito bem naquela casa até que um dia...
Era um dia cinzento, sem sol e com as folhas secas caindo das arvores. Tudo estava muito silencioso, as crianças estavam quietas em suas casas e não se ouvia um riso.
O marido caminhava em silêncio, aquele dia o deixara melancólico. Caminhava devagar com pensamentos vagos sem se deter muito em um só. Foi quando ouviu um miado que vinha do meio do capim seco, aproximou-se e viu um pequeno gato preto magrelo e com frio. Ficou com muita pena do bichinho e o levou para casa. Deu leite quentinho e arrumou um cantinho para o gatinho dormir ali bem pertinho do fogão à lenha para mantê-lo aquecido.
Daquele dia em diante, tudo mudou naquela casa. O casal passou a brigar e se desentendia por nada. A mulher fazia tudo com o zelo de sempre, mas o marido sempre achava algo errado, as brigas eram cada vez mais constantes.
A mulher também estava irritada, parecia mais cansada a cada dia. Arrumava a cama e quando  ia dormir a encontrava desarrumada e suja. Fazia o jantar e quando ia servir, o marido achava pelos de gato no meio da comida e reclamava.  Era o começo de uma nova discussão.
O marido começou a pensar como a vida estava se tornando insuportável e, foi aí que ele lembrou que tudo começara naquele dia fatídico, em que encontrara e levara aquele gato para a casa. Pensou nisso o dia todo e resolveu que ia prestar atenção naquele gato.
Continuou fazendo tudo naturalmente, mas assim que sua mulher saiu do quarto que acabou de arrumar ele entrou pé por pé e qual foi sua surpresa quando viu que o gato pulara a janela e pisoteava os lençóis branquinhos com as patas sujas de lama, em seguida puxou e enrolou todo o lençol.
O marido saiu devagarinho sem ser visto.  À noite chegou mais cedo e se escondeu na cozinha observou sua mulher preparando o jantar com muito carinho como sempre fizera. Deixou a comida preparada e saiu para arrumar a mesa, mais uma vez ele viu o gato pular a janela e enfiar o rabo nas panelas soltando pelos por todos os lados.
Ele estava apavorado, o que estava acontecendo? Foi então que se lembrou de que todas as sextas feiras ele não via o gato à noite. Resolveu então ficar à espreita e segui-lo.
O estranho gato seguiu pela estrada até que parou em frente a uma antiga figueira. Um calafrio percorreu todo o corpo do marido, mas ele agora não ia desistir ia até o fim descobriria tudo o que estava acontecendo com ele e sua adorada mulher.
Logo a noite se tornou negra e fria, não havia nem lua e nem estrelas no céu. Ao redor da grande figueira foram chegando mais gatos pretos parecia uma reunião deles. Escondido ele via e ouvia tudo. Quando deu meia noite ouviu-se um estrondo e em cima da figueira apareceu um ser horripilante com chifres e rabo e um cheiro insuportável de enxofre. Perguntou com uma voz horrenda aos gatos:
_ O que vocês fizeram para trazer mais almas para nós?
Um a Um os gatos deram suas respostas, cada qual tinha estragado uma vida em harmonia, plantado a discórdia, a desconfiança, a inveja e todo o tipo de sentimentos torpes que o ser humano era capaz de ter.
O gato que o marido seguiu falou por fim:
_ eu estou quase conseguindo o meu objetivo de separar aquele casal, eles já estão brigando quase todos os dias.
O marido foi embora apressado. Chegando a casa, preparou uma vasilha com água benta e uma corda feita de palhas também bentas. Esperou até o gato entrar pegando-o pelo rabo amarrou-o e deu-lhe um banho de água benta. Depois lhe deu uma surra com a corda feita da palha benta que o danado perdeu todos os pelos, por fim sumiu em um estouro e nunca mais apareceu para perturbar a harmonia daquela casa.
Enfim o amor venceu.




Tia Joaquina

 Muito distante daqui havia um reino muito rico e bonito. Com terras maravilhosas, cheio de árvores e flores por toda parte. Muitas fontes de água cristalina e fresquinha brotavam por entre as pedras, que de trecho em trecho apareciam pelo caminho para matar a sede dos viajantes.
Lá no alto de onde tudo se via ficava o palácio real e um bondoso rei cuidava para que seu reinado fosse bom e justo.
O rei vivia com sua única filha, uma princesinha muito linda que até parecia daquelas de contos de fadas. 
A princesinha tinha um coelhinho branquinho como a neve e com os olhos vermelhinhos como o fogo, os dois eram grandes e inseparáveis amigos. Caminhavam juntos pelo jardim real todas as manhãs, quando os primeiros raios de sol faziam o orvalho das folhas brilhar como uma joia preciosa.
Tudo estava em harmonia naquele reino e todos viviam felizes. Até que em uma manhã quando a princesa passeava pelo jardim seu coelhinho desapareceu. Ela procurou-o por todo lado, mas não havia nem rastro do coelho. Voltou para o palácio e pediu ajuda a seus criados que saíram a procurar o coelhinho. O dia passou e a noite caiu, mas o coelho não apareceu.
Passaram vários dias e ninguém encontrou o coelho. A princesa ficou doente de tanta tristeza, não queria mais sair da cama e nem ia à janela olhar o jardim.
Todos os habitantes do reino ajudavam a procurar o coelho, sem resultado algum. O rei estava triste e abatido vendo sua querida princesa cada vez mais doente, os melhores médicos do reino tinham vindo ver se podia ajudar a descobrir a doença da princesa, mas ninguém conseguia fazer nada, não havia remédio que a fizesse melhorar.
Desesperado o rei mandou espalhar por todo reino, cartazes dizendo que recompensaria muito bem àquele que fizesse sua filha sorrir de novo e levantar da cama.   
Muitos nobres até de outros reinos se apresentaram ao rei e tentaram animar a princesa, mas nada adiantava, o coelhinho levou com ele toda a sua alegria e vontade de viver.
Havia naquele reino, duas velhinhas que moravam bem distante do palácio: Maria e Joaquina. Maria era muito teimosa e não gostava de perder tempo com nada, nem nos cuidados com seu corpo. Andando com os cabelos desalinhados e a roupa suja. Joaquina ao contrário era calma, suave e se cuidava muito bem, seus cabelos eram limpos e penteados e suas roupas sempre muito branquinha. Quando souberam da doença da princesa ficaram comovidas e resolveram ir fazer uma visita. Caminharam por vários dias, como não tinham muito, pois eram muito pobres nada levavam só as roupas que vestiam.
Até que em uma noite de lua cheia avistaram o esplêndido palácio, mas suas luzes pareciam pálidas e sem brilho, em seu jardim não havia mais flores e em suas árvores nenhum fruto.  Tudo parecia se entristecer com a estranha doença da pequena princesa.
Joaquina ao ver uma grande pedra por onde saía uma água muito fresca e limpinha disse à Maria: vamos passar a noite aqui e amanhã chegaremos ao palácio bem cedo. Maria impaciente como ela só, respondeu: eu não vou esperar mais nada, vou agora mesmo subir a colina e chegarei ao palácio logo, logo para ver a princesa.
Joaquina sabia que com teimosia de Maria ninguém podia, desistiu de fazê-la mudar de ideia e a deixou seguir sozinha.
Tia Joaquina como a chamavam, ficou ali e procurou um abrigo entre as pedras bem perto da água. Tirou suas roupas empoeiradas da viagem, lavou-as e pôs a secar nas pedras, em seguida tomou um bom e gostoso banho. Lavou seus cabelos branquinhos e deixou-os secar com a leve brisa daquela noite calma.
Deitou-se na grama e quando ia pegando no sono acordou com um barulhinho. Abriu os olhos e ficou paradinha, foi quando viu um coelhinho muito branquinho bebendo água. Sua pele era tão branquinha que brilhava com a luz da lua. Joaquina passou a noite em companhia daquele coelho que parecia gostar muito da sua companhia também.
Ao amanhecer vestiu suas roupas limpas e cheirosas, penteou muito bem os cabelos e seguiu para o palácio. Lá chegando foi muito bem recebida e logo foi levada ao quarto da princesa.
A princesa estava muito fraquinha e não levantava nem a cabeça do travesseiro, nada e ninguém a animava. Tia Joaquina sentou-se à beira da cama e começou a contar de suas aventuras pouco antes de chegar ao palácio, na noite anterior.
Contou à princesa que um coelhinho branquinho...  Não conseguiu terminar a frase, pois a princesa a interrompeu:
__ meu coelho tia Joaquina!
Tia Joaquina temendo dar falsas esperanças à princesa queria dar maiores detalhes sobre o coelho, mas era sempre interrompida.
A princesa já estava sentada na cama e dizia com os olhos brilhantes:
__ meu coelho tia Joaquina!
Por fim, os criados vendo aquela cena chamou o rei que veio correndo ver o que acontecia. Ao entrar no quarto da princesa encontrou-a de pé segurando a mão de tia Joaquina e dizendo:
__é meu coelho tia Joaquina!
O rei ficou surpreso com a melhora da filha e mandou seus criados ir procurar o tal coelho no lugar onde tia Joaquina disse que o tinha visto. Logo eles voltaram e a princesa saiu correndo e feliz ao encontro do seu grande amigo.
Assim tudo no palácio volta ao normal. O rei ficou tão agradecido que convidou tia Joaquina para morar no palácio e ser dama de companhia da princesa.
Joaquina ficou muito contente com o convite, mas uma coisa a preocupava muito: onde foi parar a Maria? Foi então que os criados do rei disseram que uma velhinha muito teimosa queria ver a princesa, mas ela estava tão suja que o rei a proibiu de entrar no palácio antes de um bom banho e eles estava desde aquela noite tentando fazê-la tomar banho, mas ela não aceitava e dizia:
 _Ninguém manda em mim, tomo banho quando quiser e agora eu quero é ver a princesa!




Caminhando nos caminhos de Bernardo.

A experiência de contar histórias seja para as crianças pequenas ou para as maiores me fascina. Seus olhos brilham ao encantamento de uma viagem para mundos misteriosos, onde o real se mistura com o encantado. Nesse mundo posso ser fada ou bruxa, rainha, princesa, pobre, jovem ou velhinha. 
 O bem e o mal estão ali cada qual com sua história, com seus porquês ou não. A felicidade conquistada dura para sempre, sem ser apenas um estado que pode mudar a qualquer momento como no mundo real e  racional dos seres humanos.
 Se caminho na escuridão tenho certeza da luz que voltará a brilhar, mas mesmo assim não consigo deixar de viver o espanto, o medo, a tristeza. E no fim encontrar a alegria, a luz que inunda a alma. 
As palavras vão dançando entre chuvas, ventos, noite enluarada ou de uma negritude sem fim onde até as estrelas sumiram ou com sol iluminando a terra em um lindo céu azul. Tudo é possível neste entrelaçar de palavras, sons, gestos, ruídos ou silêncios.
 Brinco de deus e construo mundos, universos dentro do universo da emoção, do faz de conta e mergulho na grande aventura de contar uma história.
                                                                                                                                                                                                                                                                                           Assim o mestre Bernardo  me ensinou muitas coisas. Sua pedagogia: contar histórias com prazer e só para este fim.

Abraços e logo logo volto com mais uma:

 História de Bernardo.