Bernardo contava esta história dizendo sempre que as
aparências às vezes enganam e que nem tudo que parece inocente o é realmente,
por isso devemos ficar sempre atentos.
Dizia ele que este caso era relatado pelos mais velhos, que
aconteceu há muito tempo não se sabe onde, mas que aconteceu, disto ele e nem
ninguém duvidava.
Um casal vivia muito bem, tudo era harmonia naquela casa. O
marido muito carinhoso e atencioso e a esposa maravilhosa que cuidava de tudo
com muito zelo. Tudo ia muito bem
naquela casa até que um dia...
Era um dia cinzento, sem sol e com as folhas secas caindo
das arvores. Tudo estava muito silencioso, as crianças estavam quietas em suas
casas e não se ouvia um riso.
O marido caminhava em silêncio, aquele dia o deixara
melancólico. Caminhava devagar com pensamentos vagos sem se deter muito em um
só. Foi quando ouviu um miado que vinha do meio do capim seco, aproximou-se e
viu um pequeno gato preto magrelo e com frio. Ficou com muita pena do bichinho
e o levou para casa. Deu leite quentinho e arrumou um cantinho para o gatinho
dormir ali bem pertinho do fogão à lenha para mantê-lo aquecido.
Daquele dia em diante, tudo mudou naquela casa. O casal
passou a brigar e se desentendia por nada. A mulher fazia tudo com o zelo de
sempre, mas o marido sempre achava algo errado, as brigas eram cada vez mais
constantes.
A mulher também estava irritada, parecia mais cansada a cada
dia. Arrumava a cama e quando ia dormir
a encontrava desarrumada e suja. Fazia o jantar e quando ia servir, o marido
achava pelos de gato no meio da comida e reclamava. Era o começo de uma nova discussão.
O marido começou a pensar como a vida estava se tornando
insuportável e, foi aí que ele lembrou que tudo começara naquele dia fatídico,
em que encontrara e levara aquele gato para a casa. Pensou nisso o dia todo e
resolveu que ia prestar atenção naquele gato.
Continuou fazendo tudo naturalmente, mas assim que sua
mulher saiu do quarto que acabou de arrumar ele entrou pé por pé e qual foi sua
surpresa quando viu que o gato pulara a janela e pisoteava os lençóis
branquinhos com as patas sujas de lama, em seguida puxou e enrolou todo o
lençol.
O marido saiu devagarinho sem ser visto. À noite chegou mais cedo e se escondeu na
cozinha observou sua mulher preparando o jantar com muito carinho como sempre
fizera. Deixou a comida preparada e saiu para arrumar a mesa, mais uma vez ele
viu o gato pular a janela e enfiar o rabo nas panelas soltando pelos por todos
os lados.
Ele estava apavorado, o que estava acontecendo? Foi então
que se lembrou de que todas as sextas feiras ele não via o gato à noite.
Resolveu então ficar à espreita e segui-lo.
O estranho gato seguiu pela estrada até que parou em frente a
uma antiga figueira. Um calafrio percorreu todo o corpo do marido, mas ele
agora não ia desistir ia até o fim descobriria tudo o que estava acontecendo
com ele e sua adorada mulher.
Logo a noite se tornou negra e fria, não havia nem lua e nem
estrelas no céu. Ao redor da grande figueira foram chegando mais gatos pretos
parecia uma reunião deles. Escondido ele via e ouvia tudo. Quando deu meia
noite ouviu-se um estrondo e em cima da figueira apareceu um ser horripilante
com chifres e rabo e um cheiro insuportável de enxofre. Perguntou com uma voz
horrenda aos gatos:
_ O que vocês fizeram para trazer mais almas para nós?
Um a Um os gatos deram suas respostas, cada qual tinha
estragado uma vida em harmonia, plantado a discórdia, a desconfiança, a inveja
e todo o tipo de sentimentos torpes que o ser humano era capaz de ter.
O gato que o marido seguiu falou por fim:
_ eu estou quase conseguindo o meu objetivo de separar
aquele casal, eles já estão brigando quase todos os dias.
O marido foi embora apressado. Chegando a casa, preparou uma
vasilha com água benta e uma corda feita de palhas também bentas. Esperou até o
gato entrar pegando-o pelo rabo amarrou-o e deu-lhe um banho de água benta.
Depois lhe deu uma surra com a corda feita da palha benta que o danado perdeu
todos os pelos, por fim sumiu em um estouro e nunca mais apareceu para
perturbar a harmonia daquela casa.
Enfim o amor venceu.
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