HISTORIAS

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O sono da cobra


Bernardo acordou no meio da noite, e sentiu no ar aquele cheiro pavoroso, que só ele um caboclo acostumado a viver naquelas serras poderia sentir. De um pulo levantou-se tocando levemente a mulher, que acorda assustada. Levando o dedo aos lábios, ele faz para ela um sinal. Ela o entende e rapidamente pega o bebê que dorme como um anjo, em seu cesto de bambu pendurado ao lado da cama do casal.
Se dirigem para a sala onde sem uma palavra a mulher para, enquanto Bernardo entra no quarto onde dormiam suas duas filhas mais velhas. Pé ante pé, mergulha no silêncio e escuridão daquele quarto. Só seus olhos acostumados com a escuridão das noites nas serras conseguiam ver além da escuridão.
Com cuidado retira em seus braços a filha menor que dorme pesadamente, levando-a em segurança para a mãe. Volta e segurando a respiração se aproxima da filha mais velha retirando-a também para sala.
Finalmente de posse de sua fiel companheira uma espingarda de um cano só, que só lhe dava uma chance: acertar de primeira ou levaria um tempo para recarregar outro cartucho. Entrou no quarto das meninas e atirou: bam! O tiro ecoou quebrando o silêncio da noite na serra. Na cabeceira da cama das meninas jaz espatifada uma urutu, cuja picada mataria sua vítima. Não haveria socorro naquelas distantes serras.
De volta à sala respira aliviado! Mais uma noite se passava com ele velando o sono de seus filhos. E assim seguia a vida em meio a diversidade da natureza! Na luta pela sobrevivência!