HISTORIAS

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O Coelho e a Onça

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Aproveitando para desejar a todos uma feliz páscoa é que venho contar-lhes mais uma das histórias que Bernardo contava. 
"Era uma vez, no reino da bicharada havia um coelho muito esperto. Ele também era muito querido e respeitado na sua comunidade, por ser o capelão. A ele cabia fazer os casamentos, as rezas e encomendar os defuntos quando alguém passava desta para a melhor.
Correndo ligeiro pela mata lá ia o senhor coelho apressado atender a todos que precisava da sua ajuda espiritual.
No entanto, havia algum tempo que a comadre onça o observava do galho de sua árvore achando o senhor capelão muito gostoso para seu jantar. Pensava sempre em dá um jeito de pegar o coelho sem levantar suspeita, pois já não aquentava mais sua boca salivando todas as vezes que via o tal coelho, mas ele era muito atento e a qualquer sinal de perigo corria e saltava até sumir de vista no meio da mata.
Foi assim que ela bolou um plano para ficar pertinho do coelho, sem que ele ficasse tão atento e logo tratou de  coloca-lo  em ação. Desceu da árvore, quando o dia estava amanhecendo, e ela sabia que muitos bichos iria beber água no rio que ficava ali próximo. Fingiu-se de muito doente gemendo e se arrastando pedindo socorro para os bichos. Caminhou um pouco, e quando percebeu que já havia chamado a atenção esticou-se toda e fingiu de morta.
Os bichos, ainda desconfiados se aproximaram da onça. Cheiraram, mexeram e viraram ela de um lado para o outro, o doutor macaco a examinou e confirmou: a onça estava mesmo morta, esticara as canelas!
Logo a notícia se espalhou pela comunidade e como sempre acontece, toda a bicharada esqueceu das traições da onça que passa ser a coitada que morrera tão cedo, que tudo que ela fazia não era por mal e aquelas coisas todas que se costuma falar de um defunto. Assim, com este espírito de uma perda no reino, foi que a bicharada bateu na toca do coelho capelão pedindo para ele ir fazer o velório da comadre onça.
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O coelho estranhou, afinal na noite anterior ele tivera que ser mais esperto que ela e pular mais ligeiro para escapar de suas garras afiadas. Mas, mesmo assim foi cumprir com seu dever para com a comunidade.
Chegou ao velório da onça, e pegando uma vela acendeu-a e aproximou-se do caixão onde jazia morta a esperta onça.Só ele sabia que iria era tirar a prova para ver se não era mais uma das espertezas da onça, por isto deixou que um pingo de cera bem quente caísse na pata da onça, que com a dor esqueceu que estava morta e fez uma careta.
De um salto o coelho pulou bem longe, lá no terreiro e da janela começou a cantar uma ladainha:
- quem tá dentro sai para fora! Que o defunto tá com doença do mané pola!
Todos pararam pensando se tratar de uma doença contagiosa e estranhando o modo de rezar do capelão coelho. Mas, não demorou muito até que a ficha caísse para todos e deram na canela junto com o coelho que corria e saltava como nunca. Escapando assim da traiçoeira onça.
mané pola = fingir, enganar






O sapateiro

cantinhodalumad.blogspot.com.br/2009/02/sapatos.html.


 Bernado chegou com as roupas e os sapatos molhados pela fina garoa que caía na serra aquela noite. 
Após colocar roupas quentinhas e limpas e calçar o tamanco aproximou-se do fogo que ardia no fogão à lenha preparando o jantar. Como sempre fazia em noites frias aqueceu as mãos no fogo esfregando uma na outra. Um dos pequenos comentou:
- papai chegou igual um pinto molhado! 
Todos riram daquele comentário e Bernardo colocando suas botas perto do fogão para secar respondeu também rindo:
- é minha botina está molhada vou colocar aqui para secar e falando  em sapatos e botinas depois que vocês jantarem vou contar um história de um sapateiro que incomodava os vizinhos trabalhando a noite toda. As crianças ficaram empolgadas iriam ouvir mais uma das aventuras de Bernardo. Jantaram e formaram uma roda ao redor do fogo e de Bernardo para ouvirem a história.
"Era uma vez, um sapateiro que morava em um sobrado no centro de um pacato vilarejo. Ele morava no andar de cima e trabalhava no térreo. Seus vizinhos sentiam-se muito incomodados, pois ele tinha o hábito de trabalhar à noite. Todas as noites quando todos se recolhiam, o sapateiro começava a martelar seus sapatos fazendo o maior barulho e não deixando ninguém dormir sossegado.
E assim se passavam as noites entre toc! toc! toc! do martelo do sapateiro.
Cansados daquele barulho toda as noites, os moradores planejaram assustar o sapateiro. Compraram um caixão e um deles deitou-se fingindo-se de morto. Fizeram um cortejo pelas ruas do vilarejo ao entardecer, carregando o caixão até chegarem na sapataria e então pararam e pediram licença ao sapateiro dizendo:
- perdão meu senhor, mas estamos com um problema este infeliz que morreu não tem nenhum parente e nós estamos muito cansados e com frio, sabemos que trabalhas a noite toda e então pensamos será que o amigo se importaria em deixarmos o senhor defunto aqui, amanhã logo cedinho viremos pegá-lo para fazermos o enterro.
O sapateiro um velho português, respondeu-lhes com seu sotaque:
- ora pois pois, podes deixar o difunto não me incomoda.
O plano dos moradores era que quando desse meia noite o homem que estava dentro do caixão começasse a fazer ruídos, gemidos e se levantasse dando um susto no sapateiro.
O sapateiro homem piedoso que era, acendeu duas velas para o defunto e voltou para o trabalho com suas conhecidas marteladas toc! toc! toc!
Os moradores esperaram ansiosos dar meia noite para ouvirem os gritos de pavor do sapateiro, mas nada acontecia. Esperaram tanto que adormeceram só indo acordar com o dia claro, olharam um para o outro e saíram correndo em direção à sapataria do português para ver o que tinha acontecido. Um deles procurava acalmar o grupo dizendo:
- não esquenta vai ver que o compadre acabou pegando no sono como nós e ainda deve estar dormindo a esta hora.
Chegaram ofegantes ao velho sobrado  encontrando o português que trabalhava tranquilamente. Perguntaram-lhe:
Como passaste à noite? E o defunto?
O português respondeu:
ora pois pois, eu cá passei muito bem, mas vós trouxeram-me um difunto que não estavas bem morto! A noite o pobre começou a gemer e se esticar e eu dei-lhe umas marteladas para que ele sossegasse e me deixasse trabalhar em paz.
Os amigos correram para o caixão, mas tarde demais o sapateiro tinha matado o falso defunto a marteladas. Todos se calaram e foram fazer agora um velório de verdade. 
É nisso que dá assustar quem tá trabalhando!


Susto nos compadres

Aquele ano o milharal estava mesmo uma beleza, Bernado já fizera pamonhas, curau e broas de milho e faltava pouco para a colheita. O milho daria para alimentar os animais e também daria um bom fubá novo. Seria um ano de fartura, o feijão plantado junto com o milho também estava indo muito bem, fora os pés de abóbora, chuchu e outros legumes e hortaliças.
Mas algum bicho estava comendo os milhos ainda nos pés seria uma paca? Se fosse deveria estar bem gorda e sua carne era deliciosa.
Naquela tarde, Bernardo arrumou sua espingarda, sua munição e lanterna, iria para o milharal esperar aquele bicho e o traria para um bom almoço . Saiu ao anoitecer e se embrenhou pelo milharal, procurou  os rastros do bicho com o auxílio da luz de sua lanterna e se colocou de tocaia. As horas passaram, a noite chegou e nada do bicho aparecer. Bernardo já estava ficando chateado, quando ouviu vozes que passavam na estradinha de chão batido que cortava ao longo do milharal. Prestou atenção para ver se conhecia aquelas vozes e reconheceu que eram seus compadres, que certamente estavam indo para algum baile nos arredores.
 Foi aí que seu espírito de moleque mais uma vez o dominou, pensou com seus botões: a paca não veio e não deve vir mais, mas eu vou me divertir com os compadres. E sabendo que eles eram uns tremendos medrosos saiu de mansinho acompanhando seus passos por entre os pés de milho e foi quando, pisou sem querer em um pé de milho que ele já havia colhido as espigas e se encontrava seco.
Isto fez um barulho: crec! crec!.
Os seus compadres pararam imediatamente a conversa e perguntou um para o outro:
- Você ouviu compadre?
O outro respondeu:
-ouvi compadre, um barulho estranho vindo do milharal e não parece ser de bicho!
Foi a dica para Bernardo entrar em ação. Arrancou um pé de milho e saiu correndo pelo milharal fazendo o maior barulho, que no silêncio da noite parecia muito pior do que realmente era. Seus cartuchos na mucuta faziam barulho ao bater um no outro e foi assim entre: trec, trec, pim,pim, rrrrrrrr, e outros sons, que Bernardo pois os compadres medrosos para correr muito. Para ficar mais pavoroso ele colocou sua lanterna em luz baixa a qual dava uma cor alaranjada e sua figura na escuridão parecia só um vulto e com aquela luz, que parecia um olho, indo ao encontro dos compadres.
Bernardo se divertiu muito com o susto que eles levaram. Depois jogou o pé de milho para um lado e tomou o caminho da casa, ria sozinho de sua travessura, a paca havia escapado, mas o bom humor não!
No dia seguinte Bernardo encontra seus compadres que contaram a aventura ocorrida na noite anterior:
- ô compadre nós estava passando esta noite pelo seu milharal, quando vimos algo muito feio, mas muito feio mesmo, que correu um bom tempo atrás da gente e fazia uns ruídos, que nem uma criatura vivente faria. Temos certeza que era alguma alma penada! Este seu milharal, não sei não compadre, deve ter acontecido alguma coisa muito  terrível aí!
E foi assim que daquele dia em diante o lindo milharal tomou fama de mal assombrado!



Foto de milharal - timblindim.wordpress.com


Vida Bernardo! E Rolando Boldrin com seus causos e moda de viola.


Bernardo era um homem da terra vivia para plantar, mas apenas o suficiente para sua sobrevivência e de sua família. Era livre, não se apegava em possuir coisas como: casa boa, móveis, roupas e sapatos. Sua casa era bem rústica, viveu um bom tempo  em palhoças, com fogão à lenha no meio da casa   muito parecida com a oca dos índios.
Os berços de seus filhos era por ele feito com tramas de taquara ou bambu formando um cesto, que era pendurado no alto por um cipó ou uma corda feita de um material natural que ele chamava de embira. Este cesto ficava ao lado da cama do casal facilitando o embalar da criança pelo balançar do cesto. Geralmente  este balanço era acompanhado de cantigas de ninar.
A mata com boa caça e os rios cheios de peixes era o que o fazia feliz, além das cantorias, de suas histórias e causos.
Bernardo pedia pouco da vida e era feliz com seu jeito de ser.
Falando no jeitão de Bernardo lembra-me o maravilhoso e talentoso Rolando Boldrin que em seu programa de TV "Senhor Brasil" conta suas histórias, seus causos  embalado ao som da viola. Até sua aparência me lembra Bernardo, seria ele mais um dos tantos bernardos do Brasil? Se não o for, certamente suas histórias fala desses bernardos. Vamos ver alguns vídeos? Venha conhecer a poesia desse povo brasileiro. Desse Brasil caboclo!

                                                Rolando Boldrin

                                                                                                                                                                 

Jongos, Calangos e Folias


Bernardo cantava o calango, não dá para explicar com palavras por isto este vídeo para mostrar o que é .
Muito engraçado e inteligente o calango tratava do dia a dia, dos amores, do trabalho, tudo era cantado, podia ser ele sozinho ou em dupla em que um respondia ao outro os versos. Lembro-me de Bernardo cantando calango com uma de suas filhas, era maravilhoso.


Este vídeo mostra um pouco desta tão rica cultura! Desta mistura de raças  e culturas que acabou em um modo todo peculiar do brasileiro. Título : Jongos, Calangos e Folias. Música Negra, Memória e Poesia Duração : 48:41 Descrição : Jongos, Calangos e Folias. Música Negra, Memória e Poesia é um documentário realizado pela Universidade Federal Fluminense, através do Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI/UFF) e do Núcleo de Pesquisa em História Cultural (NUPHEC/UFF), com apoio do Edital Petrobrás Cultural/2005. O filme coloca em diálogo, através de jongos, calangos e folias de reis, a memória e a história da última geração de africanos, chegada ao Rio de Janeiro na primeira metade do século XIX. Dá especial atenção à poesia presente nestas manifestações que são praticadas ainda hoje, no Rio de Janeiro, por muitos dos descendentes daqueles últimos escravos. Direção Geral: Hebe Mattos e Martha Abreu; Fotografia: Guilherme Fernández; Edição: Isabel Castro; Som direto: Helio Leite; Coordenação de Produção: Marta Nóbrega; Coordenação de Pesquisa: Carolina Vianna, Carlos Eduardo Costa, Thiago Campos Pessoa; Pesquisadores: Camila Marques, Camila Mendonça, Edmilson Santos, Eric Brasil, Gilciano Menezes, Liliane Brito, Luana Oliveira, Luciana Leonardo, Matheus Serva Pereira, Rejane Becker; Coordenação de Multimídia: Ana Paula Serrano; Programação Visual: André Castro; Consultores: Ana Lugão Rios, Antonio Carlos Gomes, Mathias Assunção, Mônica Leme, Robert Slenes; Produção Executiva: JLM Produções Artísticas.

O Homem que não Respeitava a Mulher e acabou tendo um filho do coisa ruim.


              Bernardo sempre contava esta história, dizia que era verdadeira ocorrida lá pras bandas do alto sertão, muito longe, mais muito longe mesmo de onde ele morava.
"Havia naquelas bandas um homem que não tinha o menor respeito pelas mulheres. Parecia ser filho de chocadeira o cabra! Não ligava para sua mãe, para suas irmãs e para sua mulher era um verdadeiro carrasco.  Chamava à todas de moles, que reclamavam de qualquer dorzinha e que não aquentavam  com nada.
A sua mulher era tratada com rispidez e sem nenhum carinho.Exigia que ela cuidasse da casa com todos os afazeres, inclusive os que deveriam ser dele. Ela cortava a lenha para o fogão, socava o café, o arroz, enfim tudo ela tinha que fazer sem reclamar de nada. Quando ela ficou grávida o tormento aumentou. Ele insensível ao seu estado chamava-a de moleza, que ela estava  fazendo da gravidez motivo para não trabalhar, mas que com ele não colava, ela que ia tratar de fazer tudo do jeito como sempre fizera. Assim os meses da gravidez passou, ele nem olhava para a barriga da mulher que crescia a cada mês. Já completando os nove meses de gravidez e com aquele barrigão lá ia ela com o machado cortar  a lenha, socar o café e fazer tudo.
Quando começou a sentir as dores do parto era tarde da noite, o canalha do marido não quis levantar-se para chamar  a parteira, dizia que ela que esperasse o dia clarear. Tanto sofreu a coitada, que acabou vindo a perder o filho, morrendo logo depois de alguns dias de tanto desgosto.
O marido continuou a sua vida como se nada tivesse acontecido, até que um dia acordou se sentindo muito estranho, com vontade de chorar sem saber porquê, se emocionando por qualquer coisa, até com o canto dos pássaros ao amanhecer.
Levantou em uma manhã e sentiu um tremendo enjoo e logo depois estava a desejar comer as mais estranhas coisas. Definitivamente não era mais o mesmo, sentia-se sonolento e não rendia mais no trabalho como antes.
O tempo foi passando e ele começou a sentir todos os sintomas que sua mulher falava que sentia quando estava grávida e ele nunca parou para ouvi-la. Notou também que noite após noite o desconforto aumentava , assim como sua barriga que estava crescendo a cada dia. Foi com enorme pavor que em uma noite ele sentiu algo mexer em sua barriga, apavorado saiu correndo queria se livrar daquele pesadelo, mas nada adiantou e o pior é que ele tinha sido tão ruim que não restara nenhum amigo para socorre-lo.
Ficou neste estado largado, abandonado, tentou contra sua própria vida, mas nada aconteceu, percebeu que nenhuma faca o feria, nenhum tombo por mais alto que caísse o afetava.
 Após nove meses nessa agonia acordou em uma noite fria, sem lua e nem uma estrela no céu sentindo uma tremenda dor, parecia que suas entranhas iria a qualquer hora abrir-se e o mais assustador é que alguma coisa, um estranho ser mexia dendro dele cada vez com mais violência. Começou a gritar e seus gritos ecoaram na noite escura como algo de outro mundo. Os vizinhos ouviram seus urros de dor e foram ver o que estava acontecendo, por pior que ele fosse ainda era um ser humano e naquele momento clamava por socorro.
Contam que quando chegaram em seu quarto, ele dera um tremendo urro, que mais parecia um animal ferido do que um homem. Sua barriga abriu-se de cima a baixo e por ela saiu um ser demoníaco com chifres e rabo e logo em seguida evaporou em uma nuvem de enxofre. O homem ainda viveu alguns momentos e pediu perdão a todas as mulheres por ele nunca te-las entendido. Fora tremendamente castigado e deu a luz ao filho do coisa ruim."


Todas as crianças tinham medo dessa história e até hoje quando a escrevi, também senti este medo me invadindo a alma e para exorcizar é que convido vocês para ouvirem Elba Ramalho com esta música tão linda e romântica em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.    Pois , as mulheres merecem todo o respeito do mundo!

Ditos Populares



Como gente do povo Bernardo vivia repetindo os ditados populares, seja para chamar a atenção de um filho ou mesmo em umas daquelas noitadas entre uma história e outra.
Eis aqui alguns:
"Quem sai aos seus não degenera."
"Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura."
"Quem com ferro fere, com ferro será ferido."
"Quem se mistura aos porcos, varelo come."
"Mais vale um pássaro nas mãos, do que dois voando."
"Cada macaco no seu galho."
"Uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto."
"O vizinho de perto se visita de ano em ano, o de longe de seis em seis meses."
" O ciúme é um mau conselheiro."
"Filho feio nunca tem pai."
"Rapadura é doce, mas mole não é não."
"Só veem as cachaças que bebo, mas não veem os tombos que levo."
"Quanto mais rezo, mais assombração me aparece."
"O amor é como o vento, vai um vem um cento."
"Quem muito abaixa, a bunda aparece."
Estes são apenas alguns, breve publicarei outros.




Misturas de raças e culturas.


Estava procurando entender o rico e grandioso acervo cultural das memórias de Bernardo, no seu jeito de viver, nas suas histórias, seus casos, suas músicas e suas danças, e religião. De onde viria tudo aquilo? Que misturas gerou tanto saber, passado de gerações a gerações apenas oralmente, pois a maioria era analfabeta.
Vamos começar pelo caboclo Bernardo que era uma mistura de índio e mulato sendo que o mulato era uma mistura de branco e negro.
 Só aí temos a cultura branca trazida pelos europeus, a cultura dos índios brasileiros e a cultura dos negros trazidos como escravos da África.
Só assim dá para entender como se formou sua cultura: dessas misturas de raças.
 Não é cultura negra, mas tem muito dela, não é de índio, mas também seus costumes estão presentes e não é de branco, mas como as outras culturas ali está  presente. É  sobretudo, tudo isto misturado formando outra cultura: a cabocla.
Do índio ele herdou o gosto pela liberdade de viver em comunhão com a natureza, o gosto pela caça, pela pesca e algumas danças e comidas, mas nisto tudo havia traços da cultura branca e negra. Sublinhei o índio como símbolo de liberdade por ele não aceitar trabalhar para alguém, ter um chefe no modo de entender dos brancos, produzir para outros. O que era produzido da terra era repartido entre eles. O clã  era a família que era grandiosa composta de parentes e agregados.
Até aí Bernardo tinha suas histórias, seus casos, seu modo de vida , mas não estava inserido na religião dos brancos: religião católica. Esta foi introduzida aos poucos e ao longo de muitos anos trazida especialmente pela mulher com quem se casara que era branca e de família portuguesa e italiana.
Tudo isto misturado dava-lhe um jeito todo peculiar de ser.
Isto mudaria ainda mais com o tempo, quando foi expulso da terra e obrigado a viver empregado e em um vilarejo.
Mas isto é história para outra postagem.

Misturas de raças:
branco + índio = mameluco
branco + negro= mulato
branco + mulato = pardo
negro + negro = crioulo
negro + mulato = cabra
negro + índio = cafuzo
índio + mameluco = curiboca
índio + mulato = caboclo
Informações colhidas do site: yahoo respostas em http://universosassimétricos.blogspot.com

O caçador dorminhoco e a onça.




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Bernardo era caçador e por várias vezes já se deparara com a bichana como ele a chamava. Era a temida onça pintada, ou como dizia os caçadores "a pintada". Era bonita com suas manchas e andava com muita habilidade pela mata.Ficava de tocaia até conseguir pegar sua presa. Os caçadores a respeitavam e quando entravam na mata procuravam pelo rastro da bichana para ver se estavam em segurança. Bernardo e seus amigos  tinham por ela admiração e respeito, por isso nenhum tiro sequer era disparado em sua direção. Eles conviviam respeitando o seu espaço e fazendo com que ela mantivesse também uma distância segura entre eles.
Ao chegarem na mata faziam o rancho: local onde dormiam e faziam suas comidas, também a caça que conseguiam, era limpa e levada para o rancho para aguardar o dia do retorno do grupo de caçadores.  As tarefas eram repartidas e à noite quando o grupo voltava para o rancho era escolhido um para fica vigiando, enquanto os outros dormiam. A fogueira tinha que ser mantida acesa para espantar os animais inclusive a onça, um animal que prefere ir a caça a noite.  
Junto ao grupo tinha um caçador muito dorminhoco e os colegas não podiam confiar à guarda a ele, que quando acordavam a fogueira estava quase apagada e o guarda roncando ao lado.
Bernardo tinha um jeito moleque de levar a vida já comentei isso, sendo assim preparou uma pegadinha para  o dorminhoco. 
Uma noite ele acordou e viu que o amigo adormecera de novo, deixando o rancho e os amigos desprotegidos. a fogueira já estava quase apagada e já se ouvia o rosnar da bichana bem pertinho dali.
Bernardo levantou-se pôs mais lenha na fogueira, e olhando para o colega dorminhoco pegou com cuidado para não acordá-lo  amarrando o cadarço de suas botas uma na outra, pegou sua espingarda e encheu de água seus cartuchos deixando-a cuidadosamente nas mãos do amigo. Feito isto arrumou uma tremenda gritaria:
- acorda, acorda a onça já esta chegando no rancho e você dormiu novamente!
O amigo apavorado, tonto de sono tentou levantar-se, mas levou o maior tombo com os cadarços amarrados, desesperado apanhou a espingarda e atirou para o lado que Bernardo indicava ter ouvido o ronco da bichana, mas qual, com os cartuchos molhados a arma falhava e não saía tiro algum. Só um barulho: pof, pof da pólvora molhada, o cara saiu correndo cai lá, cai cá só percebendo que suas botas estavam amarradas depois de muitos tombos. 
 Assim foi que Bernardo deu uma lição no amigo que dormia sempre em seu turno de vigia.

Ao final da caçada, ele retornava para sua família com a caça e mais histórias para a criançada e esta era mais uma das suas, que com seu jeitão engraçado fazia todos rirem de suas aventuras . 

Bernardo e suas músicas preferidas


Bernardo além de contar histórias para as crianças, gostava de ouvir ou cantar as suas músicas preferidas.
Quando aparecia um amigo, com uma sanfona ou uma viola aí então a festa estava pronta. Iam até altas horas naquela cantoria, as crianças dormiam agora embaladas pela música, o que de certa forma também era uma viagem, como aquelas que eles experimentavam ouvindo suas histórias. 
O café exalava seu perfume naquelas noites restaurando os ânimos, só as crianças dormiam, em meio à música, as vozes e gostosas gargalhadas que de vez em quando rompiam à noite.
Eis algumas que ele gostava com:

                             Teixerinha e Mary Terezinha 
                                 

  Tonico e Tinoco                    



















                                   Cascatinha e Inhana   




 

    Grandes cantores!