HISTORIAS

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História da Moura Torta

Bernardo vivia contanto histórias e causos, com seu jeito dava um toque todo seu, mesmo quando contava as mais clássicas histórias como os contos de Grimm e Perraut. Ele trazia as suas histórias e lendas para bem perto, considerando o entorno e o modo como viviam em sua comunidade.
Se a história passava em um deserto, ele por certo dava um jeito de colocar as serras, as matas e as neblinas. Para ele não importava seguir à risca as histórias que ouvira sabe lá onde e quem as contou. Seus contos aparecia ali, bem ao pé da serra. E era de lá que vinha sua inspiração, da mata com o piar dos nhambus, do canto das sabiás, e do rosnar da onça pintada em noite de lua cheia.
Ele preferia contar histórias de assombração, mula sem cabeça, lobisomem, saci; algumas tão assustadoras que hoje em dia seria proibido para crianças. Mas, para Bernardo suas histórias não fazia mal nenhum a elas, eram apenas histórias. Só uma história ele deixou de contar, porque uma de suas filhas que morrera ainda criança de Sarampo (naquela época o sarampo matava) pedira para não contar esta história (ela tinha medo).
De vez em quando ele contava uma história chamada "A Moura Torta" e era assim:
Era uma vez, um homem que vivia com seus três filhos. Em seu sítio só havia  uma plantação de melancias, e era daquelas melancias que eles provinham seus sustento.
 Os meninos cresceram ali com o pai na plantação de melancia e se tornaram lindos rapazes.O pai vendo que estava na hora de seus filhos seguirem em frente e cuidarem de suas próprias vidas, um dia chamou o mais velho e disse:
_ Filho tome esta melancia e vá em busca de teu destino, mas me prometa que só partirá esta melancia onde houver água ou leite.
O filho ouviu o pai e prometeu que assim seria feito. Despediu-se e foi embora carregando a melancia. 
O dia estava muito quente, o sol castigava no céu sem uma nuvem sequer. A sede tomou conta do rapaz e aquela melancia estava se tornando mais pesada.
O rapaz a certa distância parou não aquentando mais e... proft! Jogou a melancia no chão partindo-a ao meio. Qual foi a sua surpresa quando saindo de dentro da melancia apareceu uma jovem muito bonita que pedia:
_ dá-me água, dá-me leite, dá-me água, dá-me leite.
Ele, no entanto não tinha nem água e nem leite. A bela jovem secou e morreu.
Na casa de seu pai o irmão do meio pediu para ir tentar a vida e o pai mais uma vez,  deu ao filho uma melancia recomendando como já fizera com o mais velho:
_ só a parta perto de água ou leite.
O jovem saiu e como aconteceu com o mais velho não teve paciência e logo... proft! Jogou a melancia e dela saiu uma jovem mais bonita que a primeira que pediu:  
_ dá-me água, dá-me leite, dá-me água, dá-me leite.
Ele não tinha nem água e nem leite e a jovem secou e morreu.
O rapaz mais jovem cansado de esperar por notícias dos irmãos, pediu ao pai para ir também. Quem sabe os encontraria? O pai permitiu e mais uma vez trouxe uma melancia tornando a recomendar:
_só a parta perto de água ou leite.
O rapaz pegou a melancia e seguiu seu caminho. O sol castigava, as vezes ele olhava para a suculenta melancia tentado a parti-la, logo lembrava do seu pai e seguia em frente. Andou o dia todo até que chegou perto de um riacho. Sentou em suas margens e então partiu a melancia. Qual foi sua surpresa quando saiu de dentro da melancia uma jovem muito linda, mais linda que as outras que pedia:
_ dá-me água, dá-me leite, dá-me água, dá-me leite.
Ele pegou água fresquinha do riacho e deu para a bela jovem até  ela matar a  sede. Logo a seguir ele viu que a jovem estava nua e não poderia seguir viagem assim. Escondeu-a em cima de um galho de árvore que pendia por cima do riacho e disse: 
_ fique aqui que eu vou procurar roupas para você e volto.
Ali perto morava uma Moura Torta horrenda e mal humorada. Tinha muita raiva dentro de si e só tolerava a patroa porque dela dependia para viver.
Neste dia saiu a Moura Torta com um vaso para pegar água no riacho, ia reclamando como sempre. Chegou ao riacho e quando foi pegar a água viu o reflexo da linda jovem. Pensando ser ela jogou o jarro no chão quebrando-o em pedaços.
_ Oh! Imagine eu uma linda princesa tendo que carregar água, isto não é justo. Saiu sem a água, mas logo depois teve que voltar com outro jarro para pegar água. Assim por três vezes a Moura torta vê o reflexo da jovem e pensando ser ela quebra o vaso. Até que não aquentando mais ,a jovem  lá do galho da árvore solta uma tremenda gargalhada. 
A Moura olha e vê aquela linda princesa e dá uma de boazinha:
_ O querida que faz aí sozinha? 
A princesa conta que está esperando seu noivo. A Moura a engana e lança um terrível feitiço e toma seu lugar no galho da árvore. 
Um tempo depois chega o jovem e qual foi sua surpresa ao se deparar com a Moura Torta no lugar da jovem. A Moura logo tratou de explicar o que havia acontecido:
_ você demorou muito! A minha pele tão delicada não aquentou este sol ficando assim ressequida.
O jovem acreditou e seguiu viagem com a Moura Torta.
Perto dali encontraram um belo palácio, quando o rei ficou sabendo da história reconheceu que aquelas três jovens eram suas filhas que fora encantada por uma bruxa muito má. Aceitou o pobre rei a Moura Torta como filha e princesa e a fez se casar com o jovem rapaz, que triste aceitou, pois realmente acreditava que a culpa era dele por ter deixado a princesa por tanto tempo ao sol.
O tempo passou.O jovem cada vez mais triste, passeava todas as tardes pelos jardins do palácio. Foi então, que uma linda pombinha branca começou a alegrar suas tardes. Ela voava linda pelo jardim e pousava no colo do rapaz, ele a afagava e a soltava. Até que um dia, ele percebeu que havia um alfinete espetado na pombinha. Tirou delicadamente aquele alfinete, triste pensava: porque alguém faria tanta crueldade?
E qual foi sua surpresa quando a linda pombinha, se transforma na formosa princesa que ele deixara à beira do riacho.
Tudo vem à tona, o feitiço da Moura Torta é desmascarado e ela é expulsa do palácio. 
Assim o rei, a princesa e o rapaz viveram felizes para sempre.