Aquele ano o milharal estava mesmo uma beleza, Bernado já fizera pamonhas, curau e broas de milho e faltava pouco para a colheita. O milho daria para alimentar os animais e também daria um bom fubá novo. Seria um ano de fartura, o feijão plantado junto com o milho também estava indo muito bem, fora os pés de abóbora, chuchu e outros legumes e hortaliças.
Mas algum bicho estava comendo os milhos ainda nos pés seria uma paca? Se fosse deveria estar bem gorda e sua carne era deliciosa.
Naquela tarde, Bernardo arrumou sua espingarda, sua munição e lanterna, iria para o milharal esperar aquele bicho e o traria para um bom almoço . Saiu ao anoitecer e se embrenhou pelo milharal, procurou os rastros do bicho com o auxílio da luz de sua lanterna e se colocou de tocaia. As horas passaram, a noite chegou e nada do bicho aparecer. Bernardo já estava ficando chateado, quando ouviu vozes que passavam na estradinha de chão batido que cortava ao longo do milharal. Prestou atenção para ver se conhecia aquelas vozes e reconheceu que eram seus compadres, que certamente estavam indo para algum baile nos arredores.
Foi aí que seu espírito de moleque mais uma vez o dominou, pensou com seus botões: a paca não veio e não deve vir mais, mas eu vou me divertir com os compadres. E sabendo que eles eram uns tremendos medrosos saiu de mansinho acompanhando seus passos por entre os pés de milho e foi quando, pisou sem querer em um pé de milho que ele já havia colhido as espigas e se encontrava seco.
Isto fez um barulho: crec! crec!.
Os seus compadres pararam imediatamente a conversa e perguntou um para o outro:
- Você ouviu compadre?
O outro respondeu:
-ouvi compadre, um barulho estranho vindo do milharal e não parece ser de bicho!
Foi a dica para Bernardo entrar em ação. Arrancou um pé de milho e saiu correndo pelo milharal fazendo o maior barulho, que no silêncio da noite parecia muito pior do que realmente era. Seus cartuchos na mucuta faziam barulho ao bater um no outro e foi assim entre: trec, trec, pim,pim, rrrrrrrr, e outros sons, que Bernardo pois os compadres medrosos para correr muito. Para ficar mais pavoroso ele colocou sua lanterna em luz baixa a qual dava uma cor alaranjada e sua figura na escuridão parecia só um vulto e com aquela luz, que parecia um olho, indo ao encontro dos compadres.
Bernardo se divertiu muito com o susto que eles levaram. Depois jogou o pé de milho para um lado e tomou o caminho da casa, ria sozinho de sua travessura, a paca havia escapado, mas o bom humor não!
No dia seguinte Bernardo encontra seus compadres que contaram a aventura ocorrida na noite anterior:
- ô compadre nós estava passando esta noite pelo seu milharal, quando vimos algo muito feio, mas muito feio mesmo, que correu um bom tempo atrás da gente e fazia uns ruídos, que nem uma criatura vivente faria. Temos certeza que era alguma alma penada! Este seu milharal, não sei não compadre, deve ter acontecido alguma coisa muito terrível aí!
E foi assim que daquele dia em diante o lindo milharal tomou fama de mal assombrado!
Foto de milharal - timblindim.wordpress.com
Bernardo, um caboclo matuto como muitos que vivem por esses brasis afora, com os seus casos e suas histórias. Algumas inventadas pela sua imaginação outras adaptadas de outros contos que ouvia. Analfabeto como a maioria de sua época tinha na memória um grande acervo de histórias que estava pronto a contar para a criançada em noites escuras ou de lua cheia. Vou contá-las como ouvi:
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