Bernardo, um caboclo matuto como muitos que vivem por esses brasis afora, com os seus casos e suas histórias. Algumas inventadas pela sua imaginação outras adaptadas de outros contos que ouvia. Analfabeto como a maioria de sua época tinha na memória um grande acervo de histórias que estava pronto a contar para a criançada em noites escuras ou de lua cheia. Vou contá-las como ouvi:
Bernardo era caçador e por várias vezes já se deparara com a bichana como ele a chamava. Era a temida onça pintada, ou como dizia os caçadores "a pintada". Era bonita com suas manchas e andava com muita habilidade pela mata.Ficava de tocaia até conseguir pegar sua presa. Os caçadores a respeitavam e quando entravam na mata procuravam pelo rastro da bichana para ver se estavam em segurança. Bernardo e seus amigos tinham por ela admiração e respeito, por isso nenhum tiro sequer era disparado em sua direção. Eles conviviam respeitando o seu espaço e fazendo com que ela mantivesse também uma distância segura entre eles.
Ao chegarem na mata faziam o rancho: local onde dormiam e faziam suas comidas, também a caça que conseguiam, era limpa e levada para o rancho para aguardar o dia do retorno do grupo de caçadores. As tarefas eram repartidas e à noite quando o grupo voltava para o rancho era escolhido um para fica vigiando, enquanto os outros dormiam. A fogueira tinha que ser mantida acesa para espantar os animais inclusive a onça, um animal que prefere ir a caça a noite.
Junto ao grupo tinha um caçador muito dorminhoco e os colegas não podiam confiar à guarda a ele, que quando acordavam a fogueira estava quase apagada e o guarda roncando ao lado.
Bernardo tinha um jeito moleque de levar a vida já comentei isso, sendo assim preparou uma pegadinha para o dorminhoco.
Uma noite ele acordou e viu que o amigo adormecera de novo, deixando o rancho e os amigos desprotegidos. a fogueira já estava quase apagada e já se ouvia o rosnar da bichana bem pertinho dali.
Bernardo levantou-se pôs mais lenha na fogueira, e olhando para o colega dorminhoco pegou com cuidado para não acordá-lo amarrando o cadarço de suas botas uma na outra, pegou sua espingarda e encheu de água seus cartuchos deixando-a cuidadosamente nas mãos do amigo. Feito isto arrumou uma tremenda gritaria:
- acorda, acorda a onça já esta chegando no rancho e você dormiu novamente!
O amigo apavorado, tonto de sono tentou levantar-se, mas levou o maior tombo com os cadarços amarrados, desesperado apanhou a espingarda e atirou para o lado que Bernardo indicava ter ouvido o ronco da bichana, mas qual, com os cartuchos molhados a arma falhava e não saía tiro algum. Só um barulho: pof, pof da pólvora molhada, o cara saiu correndo cai lá, cai cá só percebendo que suas botas estavam amarradas depois de muitos tombos.
Assim foi que Bernardo deu uma lição no amigo que dormia sempre em seu turno de vigia.
Ao final da caçada, ele retornava para sua família com a caça e mais histórias para a criançada e esta era mais uma das suas, que com seu jeitão engraçado fazia todos rirem de suas aventuras .
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