O dia passou e a noite caiu suave e melancólica. Na cozinha, a lenha continuava a trepidar soltando estrelinhas, como as que estavam lá no céu escuro, pois não havia lua . As crianças brincavam fazendo bichinhos com as mãos que a sombra do lampião com sua luz morteira lançava na parede.Diziam: olha um cachorro latindo, olha agora é um passarinho e o alarido de risadas soavam pelo escuridão da noite.
Bernardo ensimesmado pitava seu cigarrinho num canto, naquela noite ele parecia mais cansado, estava mais quieto. As crianças se aproximaram e pediram: conta história!
Bernardo naquela noite não estava muito afim de contar histórias, mas não podia perder a oportunidade de aprontar uma das suas, com a criançada. Raspou a garganta e ensaiou começar uma história:
Era uma vez, ia indo por um caminho, quando vi uma ponte muito grande, em baixo um rio cheio de pedras onde deslizava violentamente suas águas, se alguém caísse ali jamais sairia com vida. Ao me aproximar vi que do outro lado da ponte uma enorme boiada começava a passar e os bois eram muito bravos. Eu encostei de um lado da ponte e fiquei esperando a boiada passar...Ficou em silêncio com seu cigarro, as crianças esperaram que ele voltasse a contar a história, mas ele continuava calado, não aquentando mais eles em coro pediram:- conta a história e ele responde com um sorriso de quem saiu vitorioso: - a boiada tá passando.
Pronto as crianças que fossem arrumar outra brincadeira, porque ele aquela noite não contaria história alguma: a boiada ia continuar passando.
Assim, deixe a boiada passar que contarei em postagem próxima outra história de Bernardo.
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