HISTORIAS

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É Natal outra vez

De novo o Natal, de novo as trocas de presentes, as promessas se renovam e uma alegria toma conta de todos ou quase todos.
Jesus o Rei se faz humano e vem nos visitar, na fragilidade de uma criança, em uma família pobre se cumpre a profecia. Veio para nos trazer a Luz, veio para nos mostrar o Pai. 
Veio nos ensinar a viver no amor e na fraternidade. 
Feliz Natal! 

Correu e perdeu as calças

Já era tarde da noite, Bernardo e sua família dormiam tranquilamente. A lua brilhava no céu e o clima ameno do lugar tornava aquela noite de primavera, um acalanto para o sono da família.

O lugar era muito sossegado e naquela época não se ouvia falar de violência, por aquelas bandas. Por isso, o cuidado com as portas e janelas não era a preocupação de Bernardo. A porta da sala tinha uma pequena janelinha, que nunca fora colocado o vidro e que por ali podia-se perfeitamente abrir com facilidade a porta pelo lado de dentro enfiando a mão pelo buraco. 

Aquela noite porém, aconteceu algo inusitado: todos já dormiam, menos uma das filhas menores,  que sem sono, ficou a olhar o pequeno buraco na porta por onde se via o clarão da lua. Tudo estava tranquilo o único barulho que se ouvia era o ronco de Bernardo que cansado da labuta dormia pesadamente.  Foi quando o silêncio da noite foi interrompido pelo grito apavorado da menina: 

Pai tem um homem olhando pela porta!
Bernardo acordou com o grito da menina, pulou da cama e com sua foice na mão correu em direção à porta. Foi questão de segundos que pareceram uma eternidade, a mãe correu e puxou a menina para sua cama, as outras crianças dormindo pesadamente não ouviram os gritos e continuavam a dormir.
Como sempre fazia em hora de aperto a mulher de Bernardo rezava. 
Bernardo viu na claridade da lua um forasteiro, que fugia apressado. Abriu a porta, e empunhando sua foice, correu atrás do sujeito. Sua mulher e a menina nem respiravam direito com medo e preocupadas. 
O cão que dormia e não sei porque ele não viu o forasteiro, mas com o grito  despertou e saiu correndo e latindo atrás do sujeito.  Bernardo deu uma volta no terreiro, sempre com sua foice, mas nada achou, o desconhecido já estava longe e não perturbaria mais. O cachorro parou de latir e voltou para junto de seu dono, que depois de se certificar que não havia mais ninguém por ali também voltou para dormir. 
Na manhã seguinte, as crianças foram curiosas procurar algum rastro do estranho e acharam caída no terreiro uma calça, a qual foi motivo de muito riso. O cara havia se dado mal e na fuga de Bernardo e seu cachorro perdera as calças. 
Esta foi mais uma das aventuras vividas por Bernardo e sua família.

  


 

Gato tem mesmo sete vidas!

 
Bernardo já estava ficando muito bravo, a dias que sua mulher reclamava a mesma coisa, o gato comera seus patinhos.
Ela criava patos e fazia isto com muito carinho. As crianças ficavam vigiando para ver quando os primeiros ovinhos começavam a trincar, pois era o sinal do nascimento. Logo uma ninhada de patinhos amarelinhos estariam a correr e a nadar no pequeno córrego feito para eles. Na verdade era uma pequena vala que se abria desde uma torneira e escorria até a várgea próxima a casa, onde ficava a horta. 
Naquela época, a água jorrava com fartura vinda das serras e ninguém ouvia falar em falta de água. Era água cristalina, fresca e que se tomava ali mesmo sem ser filtrada.
Mas caboclo não é nada bobo e Bernardo fez da seguinte forma: em baixo da torneira colocou um grande tonel que era furado, em cima uma grande bacia, que de velha estava também furada. Assim ela servia de apoio para todas as necessidades da família: lavar a louça, a roupa, as verduras colhidas da horta e tudo que precisasse de água. Ao escorrer aquela água ia para um pequeno lago, (pequeníssimo), mas para os patinhos recém nascido era um grande lago, onde levados pela mamãe pata nadavam e nadavam. Esta mesma água escorria por uma vala e ia umedecer o solo da horta, desta forma toda água era aproveitada. 
Voltamos aos patinhos, causa da preocupação e do vilão gato. Aquela ninhada era especial, patinhos amarelinhos que saíram de todos os ovos, não gorou nenhum. A mulher de Bernardo, aparava o rabinho de todos eles com uma tesoura, para que os mesmos não esbarrassem na lama. Este acontecimento era feito logo após o nascimento e era uma festa para as crianças. A mamãe pata ficava muito enciumada de sua ninhada, por isto não deixava ninguém se aproximar de sua cria, e isto era muito divertido para as crianças vê-la abrir as asas e partir para cima de quem quer que se aproximasse de sua ninhada. Este privilégio só a mulher de Bernardo tinha.
Mas, havia na casa um gato, parecido com uma oncinha. Bernardo dizia que ele poderia ser filho de gato do mato. Este gato enganava a mamãe pata e sorrateiramente pulava em cima de um dos patinhos e corria para a mata. Indo comer sua presa longe dos olhos de todos, depois voltava com a maior cara de pau. De um em um, a ninhada estava acabando e a paciência de Bernardo também. 
Aquela noite estava muito escura, as crianças estavam um pouco amedrontadas, pois o gato aprontara novamente e comera mais um patinho.
Chegou a tão temida hora para as crianças, a mulher de Bernardo reclamou mais uma vez: o gato comeu mais um patinho. Foi a gota d'água, Bernardo levantou-se pegou sua garrucha e foi acertar contas com o danado do gato. As crianças tamparam o ouvido, pois não queriam ouvir o tiro. 
Um pouco depois retornou Bernado dizendo que acertou o danado na testa, mas ele pulou e sumiu. De certo foi morrer na mata. 
Passou-se  semanas do acontecido, as crianças voltaram a sua rotina já esquecidas do triste episódio. 
Era noite de lua cheia, o terreiro todo estava iluminado pela grande lua, podendo se ver a várgea e a horta. Os patos dormiam no quintal tranquilos sem a ameaça do terrível gato.
Na cozinha Bernardo, a mulher e as crianças conversavam animados e de repente, um barulho vindo da janela, chamou a atenção de todos. No clarão da lua o gato ressurgido da morte aparece, as crianças gritam com medo. Seria um fantasma? Bernardo o pega e examina, depois mostra a cicatriz no meio da testa do gato e diz: olha que danado, o tiro o pegou de raspão saindo a bala por cima da cabeça. Ele estava magro e faminto. As crianças correram felizes por não se tratar de um fantasma e trataram de dar comida para o gato. Assim ele viveu feliz para sempre e curiosamente nunca mais comeu os patinhos. 

A FÁBULA DA ONÇA E O GATO

   
As crianças já estavam todas sentadas à espera da história da noite, com seus olhinhos brilhando de curiosidade. Bernardo sentou-se em um banquinho perto do fogão à lenha, as labaredas que subiam em formas de línguas de fogo balançadas por um vento que soprava pelas frestas da janela, projetavam na parede, sua sombra um pouco distorcida. 
   O ambiente da cozinha ficava aquelas horas, envolto numa penumbra entre o clarão do fogão e a luz trêmula do pequeno lampião à querosene. Aquele ambiente era favorável ao encantamento, ao mágico. Tudo era possível e lógico, bastando para tanto a voz de Bernardo:
Era uma vez, uma onça que aproximou-se de um gato e astuta     fez-se de mansinha e confiável. 
_ Oh! Senhor gato como admiro sua agilidade! Dizia, fazendo com que, o gato ficasse muito vaidoso. De elogio pra lá e elogio pra cá a onça convenceu o gato a ensiná-la, os seus admiráveis pulos.
Assim passaram os dias, o gato ensinou a onça a pular para um lado e para o outro. A cair em pé e a onça aprendia tudo muito bem.
   Até que um dia, ela achou que já estava pronta, que havia aprendido todos os pulos do gato, e pulou em cima dele com suas garras enormes. O gato deu um salto para trás e escapou. A onça admirada disse:
_ Oh senhor gato este não me ensinaste!
O gato já longe e em segurança responde:
_ É dona onça e se eu estivesse te ensinado tudo, você teria me comido!
E terminava um tanto misterioso:
É crianças não se ensina o pulo do gato!


Alfaiate valente

Era começo da primavera e da mata exalava o perfume das flores. A dama da noite com seu perfume  enchia os arredores. As crianças de Bernardo imaginavam uma linda mulher encantada que se transformara naquela árvore e  à noite seu perfume era sentindo de longe.Diziam que ela tinha o poder de sedução e não era aconselhável ficar sentindo o seu cheiro doce e inebriante.        
Bernardo chegou, e após abençoar seu filhos,  todos jantaram e ele aproveitou a noite amena da serra para apreciar a lua, que com sua luz tornava cor de prata a mata. As crianças o seguia, umas penduradas nos braços, outras sentadas em seu colo.
Bernardo olhou para a lua e apontando-a disse: olha o dragão e São Jorge. As crianças olhavam para ela e não restava menor dúvida lá estava São Jorge e o dragão. 
Bernardo aproveitou a admiração das crianças pela coragem de São Jorge, para contar-lhes a história de um homem muito corajoso.
Era uma vez em um pequeno vilarejo, morava um pequeno homem, Chamado João que trabalhava como alfaiate. Passava ele, dias e dias a cortar e a costurar e já estava ficando um tanto quanto entediado com sua rotina. 
Um certo dia derramou acidentalmente em sua mesa , um pouco de melado e logo as moscas vieram pousar atrapalhando seu trabalho. Irritado deu um golpe com um pedaço de pano matando sete moscas em um só golpe.  Ficou ali por uns instantes contando as moscas caídas e resolveu escrever em seu cinto: matei sete num só golpe.
Naquela tarde ao fechar a alfaiataria notou que as pessoas o olhavam admiradas.
 — Olha ele matou sete num golpe só! comentavam admirados.  E o boato foi se espalhando pelos arredores e a cada conto como diz o ditado, se aumenta um ponto, já tinha gente jurando que ele matara sete gigantes.
 João resolveu aproveitar este momento de fama e saiu para viajar. Foi assim que no meio do caminho, encontrou um passarinho que havia caído do ninho, pegou o pequeno passarinho e o colocou em sua bolsa.
Mais tarde, passou por uma venda, e comprou um queijo para a viagem e alguns pães. Continuou seu caminho repartindo os farelos de pão com o passarinho.
Depois de muito caminhar chegou em uma cidade que parecia muito triste, as pessoas cedo se recolhiam fechando portas e janelas. João ficou curioso e logo quis saber o que acontecia ali.
Ficou sabendo, que havia  um terrível gigante, que atacava a cidade e para que tal coisa não acontecesse os moradores teriam que sacrificar uma bela donzela entregando-a ao gigante. Já estava acabando as moças do lugar e as poucas que ficaram viviam tristes, não sorriam, não cantavam e nem dançavam como antes faziam. 
Mais triste é que desta vez a sorteada era a linda princesa, não havia no reino moça mais bonita. O rei já havia oferecido um prêmio para o rapaz que derrotasse o terrível gigante, mas ninguém apareceu.
O pequeno alfaiate teve a ideia de se apresentar ao rei. Chegando ao palácio o rei notou o que estava escrito em seu cinto: "Matei sete num só golpe", mas duvidou que aquele sujeito tão franzino fosse capaz de vencer o gigante. Por isto prometeu que daria o que o alfaiate quisesse.
O alfaiate que já estava encantado com a princesa  pediu sua mão em casamento, caso vencesse a batalha,  o rei de pronto aceitou o acordo.
João voltou para cidade e disse a todos que ia ao encontro do gigante, logo o boato se espalhou e diziam:
— Ele já matou sete gigantes num só golpe. 
E assim a fama de João se espalhava rapidamente.
O gigante também ficou sabendo e veio furioso ao encontro do pequeno alfaiate, que caminhava tranquilo pelos arredores do palácio.
João de longe ouviu as passadas pesadas do gigante fazendo estremecer o chão, ao vê-lo ficou impressionado pelo tamanho e feiúra do gigante. O gigante por sua vez, riu de ver o seu oponente um pequeno homem, tão franzino.
Fanfarrão bateu no peito e disse:
— KKKKK É você que estava a minha procura? Já encontrou e vou acabar com você, vou apertá-lo e esmagar os teus ossos!
João olhou para cima e viu que o gigante era tão alto que ficava acima das serras, esperto disse:
—Te proponho uma competição, se você ganhar pode fazer  o que quiser comigo e levar a princesa. O gigante aceitou sem pestanejar certo da vitória.
João propôs ao gigante a primeira prova: Aquele que jogar uma pedra mais longe.
O gigante pegou uma pedra e arremessou tão longe que passou por cima das serras. 
João muito esperto tirou o passarinho que levava consigo, aquele que caíra do ninho e João havia cuidado dele o tempo todo com suas migalhas de pão, e o jogou para cima. Tão logo o passarinho se viu livre voou tão alto que sumiu nas nuvens. João ganhou a prova com esta esperteza.
— Agora a prova é esta: quero ver você tirar água da pedra. 
O gigante pegando uma pedra espremeu-a com tanta força que a esmagou, mas não saiu água nenhuma.
João lembrou-se do queijo fresquinho que trazia na mochila. Pegou-o e espremeu o queijo até soltar toda água dele.
 O gigante estava mais bravo. Urrava de raiva. Ele não enxergava muito bem por isso não via as trapaças do João.
João então o desafiou, aproveitando o momento que estava ganhando: — Olha já matei sete num só golpe, mas hoje não estou com vontade, se você for embora para sempre, eu o perdoo.
O gigante não pensou duas vezes e foi embora.
João chegou ao palácio feliz da vida, ia cobrar a promessa do rei. 
O rei pediu para ele ficar no palácio para os preparativos e João achou justo e ficou.
Só que o rei, não estava muito contente, em entregar sua única filha a um simples alfaiate. Mandou chamar seus soldados e deu esta ordem:
—Esperem João dormir e sumam com ele daqui, façam o que quiserem, mas não quero vê-lo de novo.
Só que a princesa escondida ouviu a conversa do rei e ela já estava gostando muito do João e não queria que nada de mal lhe acontecesse, por isto procurou-o alertando-o:
— Vá embora João, o meu pai mandou os soldados te matar hoje à noite quando fores dormir.
João que afinal era valente mesmo, não quis saber de fugir, por mais que a princesa pedisse. 
—Eu vou ficar e lutar, seu pai vai ter que honrar o compromisso.
João retirou-se após o jantar para o quarto, arrumou a cama e ficou escondido esperando.
Os soldados do rei entraram e deram terríveis golpes de espada na cama, pensando ali estar João dormindo. João caiu em cima deles de porrete e gritando matei sete gigante num só golpe e fiz um sair daqui correndo, o que são vocês soldadinhos? 
Os soldados ficaram apavorados com a surpresa, que fugiram do palácio sem olhar para trás.
No dia seguinte João foi ter com o rei e disse-lhe:
—Honra tua palavra e me dê sua filha em casamento. O rei viu que não ia ter jeito e aceitou que João se casasse com sua filha.
Foi um festão e eles viveram felizes para sempre.

Esta história que Bernardo contava à maneira dele, era dos contos populares dos irmãos Grimm.






  

Visitando as Ruínas de São João Marcos

Bernardo contava sempre para suas crianças, a história de uma cidade que fora inundada pelas águas de uma represa. Contava daquele jeitão dele, com muita imaginação fazendo com que os pequenos imaginassem uma cidade inteira adormecida debaixo dágua.


Ali perto da então Santo Antônio do Capivari, dizia Bernardo que podia ver a grande represa. As crianças o escutava curiosas, ouvindo suas  lendas e suas histórias.

Hoje São João Marcos é um sítio arqueológico onde os visitantes podem conhecer melhor sua História. Um lugar lindo, com uma História que nos ensina muito, sobre um pedacinho de nosso Brasil, sua riqueza e sua gente.



São João Marcos surgiu com a colonização da região onde vivia os índios puris ou coroados.
Os colonizadores sofreram resistência por parte dos nativos, estes que já se encontravam acuados não aceitavam o colonizador branco. Conta-se que um chefe da tribo ateou fogo na plantação de uma fazenda, por achar que o fazendeiro não estava cumprindo o acordo que fizera.


A região prosperava com o ciclo do café, muitas fazendas surgiram no lugar como a do Joaquim Breves que contava com 30 fazendas e 6.000 escravos. A necessidade de escoamento da produção e do ouro que vinha de Minas fez com que por volta de 1700 fizessem uma estrada conhecida como a Estrada do Ouro ligando Minas Gerais e o litoral fluminense. Nas ruínas ainda é possível ver parte desta estrada.



Com a abolição da escravidão e a queda na produção agrícola a região entra em crise, São João Marcos era um grande centro com uma estrutura invejável com teatro, escolas, praças, clubes e duas igrejas. A matriz de São João Marcos construída por um fazendeiro devoto do Santo era esplêndida conta seus antigos moradores.
Com a crise vai aos poucos sendo esvaziada, os grandes fazendeiros começam a vender suas terras e irem embora. 
O grande comendador Breves influente na política morre em 1889.
Em 1939 foi tombada numa tentativa de preservar seus prédios, mas em 1940 foi destombada para aumentar a represa de Ribeirão das Lages.

   Não era como na imaginação das crianças de Bernardo, a cidade fora demolida e nem toda jazia debaixo dágua. Toneladas de escombros foi o que restou da grandiosa São João Marcos. A população mais pobre foi a que mais sofreu  espalhando-se pelos municípios vizinhos.

Uma viagem no tempo!


muro de contenção da estrada do ouro








Valeu o passeio! Até breve!

Alto da Serra (caminhando pela ferrovia desativada)


Cheguei ao Alto da Serra. Terra em que viveram a família de Bernardo: seus pais, avós, tios e tias. Vivendo da terra, das plantações, caça e pesca nos riachos.

A alegria e emoção não me deixava sentir o cansaço da caminhada rumo à serra. Estava pisando onde Bernardo pisou. 


Por um instante as vozes do passado ressoavam com força: a linha do trem era o meio preferido que Bernardo usava para chegar ao seu sítio, mas enfrentava o túnel estreito e os cortes onde só davam passagem para o trem. 
Ouvia sua voz: — estava quase na hora do trem e tive que andar depressa, muito depressa se ele me alcança, não chegaria em casa hoje. Tudo era visto como mais uma aventura e coragem daquele caboclo baixinho e esperto. Podia sentir seus passos rápidos e ouvir o apito do trem.


Como Bernardo perguntei de brincadeira ao meu irmão: — será que estar na hora do trem? Ele riu e eu respondi: — um trem fantasma como nas Histórias de Bernardo, soltando fogo e fumaça e avançando ferozmente.


A água corria pelas pedras refrescando aquele
 dia que apesar do inverno estava quente.


Finalmente avistamos o túnel, lindo contando um pedaço da história, construído em 1924.


Estava entardecendo não podíamos nos demorar, o carro ficara distante. Que vontade de fazer como Bernardo e atravessar o túnel, avistaríamos Angra o mar, seria lindo! 
O bom senso de minha irmã disse:— o túnel é perigoso está abandonado deve ter bicho e muito morcegos. Aqui tem cobra e já ouvi dizer que tem aparecido onça.


Voltando mais uma pausa para uma foto, em frente bem lá no meio da mata é que vivia Benardo. Hoje a mata atlântica está retomando o lugar, assim espero!


Na Serra já surgia uma pequena neblina, também inspiração para as histórias de Bernardo. 

Uma penumbra já anunciava o entardecer, deixando a paisagem ainda mais bonita!


Aqui nos despedimos logo depois do rio pegaríamos o carro para Lídice. Antes as últimas fotos.




Passeio ao Alto da Serra.


Cheguei nas terras de Bernardo, foi um sonho caminhar por aquela estradinha de chão batido. Em alguns trechos surgia calçada de pedras. O Rio a acompanhava refrescando e matando a sede com sua água cristalina. As serras foram chegando mais perto à medida que subíamos. A mata de um verde exuberante enchendo nossos pulmões de ar puro.  
 O Rio corria sereno ao lado da pequena estrada! Ouvia lá longe no túnel do tempo Bernardo contando seus casos


        
   Caminhamos procurando na mata sinais da história de Bernardo, aqui e ali surgia umas amoras vermelhinhas, apesar de não estar na época e eram colhidas imediatamente pelo bisneto de Bernardo.     

                                                                                 


  Não sabíamos ao certo se o Alto da Serra estava perto ou longe, mas o encanto daquele lugar nos fazia ir em frente.
 Por estes caminhos passaram os antepassados de Bernardo, mulheres arrastando seus vestidos longos e rodados que como contava Bernardo iam varrendo o chão. 

 Ouvia suas histórias, suas caminhadas com seus irmãos e primos e suas travessuras de rapazola.

 Imaginava Bernardo em dia de festa na vila, com sua impecável calça branca e seu chapéu de palha.

  
Faltava pouco para chegar no Alto da Serra de Lídice, logo avistaríamos a velha estação e a linha da ferrovia.

 Estação do Alto da Serra (Lídice)