HISTORIAS

HISTORIAS

Ressurreição


Que alegria o amanhecer
Cheio de promessas de vida
 O tempo passa e o entardecer
 Com ele vem o cansaço, a ferida
Tudo na escuridão mergulha 
É a noite, a morte o fim da vida!
Oh! tempo que se esvai
Rápido como o vento!
Por quê entre meus ais
Deixei passar o meu tempo?
Sem correr veloz como o vento
atrás dos meus ideais
Oh! Tempo que não volta mais
Nem um segundo sequer
Mas o que me faz     
 viver ainda querer
É que depois de uma noite
Há sempre um amanhecer.
E assim ressuscitamos a cada dia!

Pele de burro.

 Bernardo chegou e após cumprir o ritual de todos os dias, puxou uma cadeira e sentou-se na sala. Era verão e o clima ameno da serra fazia entrar pela  janela  uma brisa fresca. As crianças sentaram-se em um banco próximo a ele e esperavam pela história da noite. Desta vez Bernardo contou uma história de Charles Perrault denominada "Pele de Burro". Contou assim:
Era uma vez um reino muito lindo e com muitas riquezas, o palácio real era ornado com o brilho do ouro e das pedras preciosas. Seu jardim estava sempre florido e o perfume das flores invadiam o interior do palácio. A rainha era uma mulher muito bonita, não havia no reino beleza igual e o rei a amava muito. Eles tinham uma filha uma bela princesinha que vivia brincando feliz pelo palácio. Tudo era perfeito naquele reino. 
Até que um dia a rainha ficou doente. O rei mandou vir médico de todo os lugares que examinaram a rainha,mas não conseguiram descobrir a doença. Benzedeiras também vieram, mas ninguém conseguiu curar a misteriosa doença. 
Quase morrendo a rainha chamou o rei e fez com que ele  fizesse uma promessa: que não se casaria novamente,a menos que encontrasse outra rainha mais bela ainda que ela. O rei desesperado prometeu e logo a seguir ela morreu.
Foram anos de solidão e tristeza naquele reino, antes tão bonito. O rei nunca mais fora o mesmo, não se casou novamente, pois sempre lembrava de sua promessa à rainha em seu leito de morte, e a seus olhos não havia nenhuma mulher mais bonita que sua rainha. O sofrimento o transformou em um velho amargo, nem mesmo sua filha o alegrava e assim a bela princesinha cresceu sem que seu pai, o rei percebesse.
Até que um dia, a linda princesinha passeava pelo jardim do palácio, quando o velho rei a viu. Ficou deslumbrado com tanta beleza, aquela jovem era ainda mais bonita que sua rainha. Mandou chamar imediatamente a princesa e o que ele propôs a deixou desesperada, com certeza seu velho pai enlouquecera de tanto sofrer. Ele queria  casar-se com a princesinha,não se importando que ela fosse sua filha. 
A jovem ficou muito triste e chorava muito, não sabia o que fazer, o rei já tinha decretado que iria se casar com ela e palavra de rei não volta atrás. 
Uma fada que era sua madrinha foi vê-la e a aconselhou:
— Diga a ele que aceita seu pedido, mas antes ele terá que te dar de presente um lindo vestido, tão lindo como as profundezas do oceano.
Assim a princesinha fez e o rei concordou. 
Passou-se um tempo e o rei procurou em todo o reino pelo vestido, não achando nada parecido mandou vir das terras mágicas do oriente, homens sábios entendidos tanto na arte da confecção, como na arte da magia. Estes homens conseguiram fazer o vestido que a princesa pediu.
Foi com muita tristeza que ela recebeu o presente. O vestido era maravilhoso da cor do oceano e com peixes e criaturas marinhas que pareciam vivas de tão perfeitas. Quando andava a longa saia do vestido fazia ondas e nela pareciam nadar os peixes, era inacreditável, não havia em lugar algum algo tão bonito.
Chorando em seu quarto a princesa não conseguia admirar aquela obra de arte, foi aí que novamente apareceu sua fada madrinha e a aconselhou:
—Não chores linda princesa, vá e diga ao rei que para se casar com ele, terá que ter um vestido tão lindo quanto o dourado do sol.
Assim ela fez. Se apresentou ao rei e fez o novo pedido.
O rei mandou procurar por todo seu reino e não achou nenhum vestido tão lindo como o que a princesa havia descrito. Novamente recorreu a outros reinos e encontrou o vestido, era tão lindo e brilhante como o sol,tanto que quando a caixa se abria raios luminosos invadia a sala do palácio. A princesa pegou o vestido e se recolheu triste para seu quarto.
Sua fada madrinha não desistiu e a aconselhou:
—Vá e peça ao rei um vestido da cor da noite com o brilho das estrelas e o clarão da lua.
A princesa foi e pediu ao rei e ele mandou procurar em toda Terra e achou mais uma vez o vestido. Era ainda mais lindo que os outros, tinha a cor da noite e o brilho das estrelas e ainda o clarão da lua.
A princesa ainda mais triste se recolheu para o seu quarto.
A fada madrinha sabia de um segredo do rei, sabia que toda a sua riqueza vinha de um burro encantado, o qual ele tratava muito bem e não se afastava dele nem por um momento. 
—Vá princesa e peça ao rei a pele do burro.
A fada madrinha acreditava que o rei não ia aceitar se desfazer de seu burro encantado. Mas enganou-se, o rei mandou imediatamente matar o burro e deu sua pele para a princesa.
A fada madrinha não via outra solução e aconselhou a princesa a fugir do palácio e da loucura do rei.
— Pegue seus presentes e não esqueça de seu anel real, se esconda com a pele do burro e vá para bem longe.
Naquela mesma noite a princesa fugiu do palácio envolvida na pele do burro.
Andou por muito tempo e parou em um reino, bem longe do seu pai. Escondida com a horrenda pele de burro foi pedir abrigo neste reino. Aceitaram-na como criada e lhe deram uma casinha nas imediações do palácio para ela ficar.
A princesa começou a fazer deliciosos doces e bolos que vendia para o povo do reino, e assim ela vivia.
Ninguém a tinha visto como ela era realmente, pois só saía coberta com a pele de burro. Logo nas imediações do palácio os boatos corriam soltos de que a "Pele de Burro" como eles a chamavam era uma mulher muito feia, horrível mesmo e que ninguém poderia suportar olhar para ela.
Um dia o príncipe, o rapaz mais lindo da região saiu a cavalgar com seu lindo cavalo branco, até que se aproximou do casebre de Pele de Burro. Ficou intrigado quando ouviu uma linda melodia que vinha de dentro do casebre. Se aproximou curioso, como uma mulher tão feia como a Pele de Burro poderia cantar tão bem? Que linda voz! Foi se aproximando de mansinho e olhou pelo buraco da fechadura. Qual foi sua surpresa ao ver a linda princesa sem a pele de burro preparando os mais deliciosos doces e bolos.
Ficou encantado com tamanha beleza.
Voltou para o palácio e pediu a rainha que mandasse comprar doce e bolos da Pele de Burro. Ela relutou, pois havia no palácio muitos cozinheiros, renomados chefes, porque ele ia querer doces e bolos de uma criatura tão horrenda. O príncipe insistiu tanto, que a rainha mandou um de seus súditos ir até a casa de Pele de Burro e fazer a encomenda.
Na manhã seguinte a Pele de Burro chega ao palácio com deliciosos doces e bolos. O príncipe não tirava da cabeça aquela linda mulher que ele vira pelo buraco da fechadura. Tentou se aproximar de Pele de Burro e conversar com ela, mas ela se esquivou e após a entrega foi embora sem dizer uma palavra.
Na manhã seguinte, o príncipe sai a galopar com seu lindo cavalo branco, indo parar no casebre de Pele de Burro. Chamou-a dizendo que queria um doce como desculpa,pois o que ele queria ela vê-la e falar com ela. 
A princesa apareceu e o atendeu com a porta entre aberta e coberta com a Pele de Burro, porém quando ela estendeu a mão para entregar-lhe os doces ele viu em seus delicados dedos o anel real. 
Não havia mais dúvida, ele estava diante de uma linda princesa, disfarçada com aquela pele de burro.
Continuou o príncipe a encomendar doces e bolos com o pretexto de ver Pele de Burro e tentar conversar com ela, mas ela se mostrava sempre distante, coberta com a pele de burro só deixando ver suas lindas e delicadas mãos.
Aconteceu, que um dia o príncipe ao comer uma fatia do bolo que Pele de Burro fizera, encontrou nele o anel da princesa. Imediatamente mandou convocar todas as moças do reino dizendo que aquela, cujo anel servisse seria sua esposa. 
Foi uma festa no reino, todas as moças ricas e pobres se apresentaram, mas em nenhuma serviu o anel. 
O príncipe mandou chamar sua mãe, a rainha e disse que faltava uma moça no reino que não viera a seu baile. Pediu que ela providenciasse imediatamente alguém para buscar a Pele de Burro. A rainha protestou, seu filho estaria ficando louco, como ele poderia convidar para sua festa tamanha aberração.
Não adiantou e um mensageiro foi enviado ao casebre de Pele de Burro com a incumbência de trazê-la ao palácio.
A princesa pediu um tempo para se arrumar, cuidou de seu lindos cabelos, se perfumou e colocou o vestido mais lindo que seu pai lhe dera de presente. Quando saiu o mensageiro se assustou com tanta beleza, mas tratou de levá-la imediatamente ao palácio.
Ao chegar todos os olhares se voltaram para ela, como poderia aquela mulher tão bonita ter ficado escondida todo este tempo naquela pele de burro.
Aproximou-se do príncipe e estendendo sua mão, ele colocou o anel que encaixou perfeitamente em seu lindo e delicado dedo. 
Pronto ele havia encontrado sua linda princesa e Pele de Burro foi feliz para sempre ao lado de seu príncipe.