Esta história aconteceu num vilarejo do Estado do Rio de Janeiro chamado Vargem Alegre. Cortado pelo Rio Paraíba do Sul e a linha férrea com seus pesados vagões de trem, que à noite passavam apitando e rolando estridentemente sobre os trilhos.
Neste vilarejo funcionou até a década de 90 um hospital psiquiátrico de grande porte, cuja hala das mulheres e administrativa do hospital ficavam instaladas no antigo casarão do Barão de Vargem Alegre. Do nobre casarão hoje só restam as ruínas.
Imaginem: ali numa mesma rua, mexendo com a imaginação popular, o velho casarão que já presenciara muitas histórias, o cemitério do vilarejo e uma velha figueira, que silenciosos a tudo via, a tudo ouvia nos seus longos anos.
Aconteceu numa destas noites escuras, com nuvens negras no céu e uma lua pálida que teimava em se esconder por entre elas. Tornando uma escuridão que sufocava.
Um homem caminhava por esta rua, que àquela hora da noite e com um vento frio que uivava feito um bicho, se encontrava totalmente deserta.
Nenhuma alma viva, pensava ele, ouvindo sua respiração ofegante e as batidas de seu coração, entre um uivar e outro do vento.
Caminhou devagar, passou pelo cemitério e meio desconfiado olhou o muro e o portão e se benzeu. Continuou seu caminho passando pelo velho casarão, respirou fundo, ali tudo estava quieto. Pensou nas mulheres internadas. Que histórias elas teriam? Ninguém sabia ao certo a história de muitas delas, apenas suposições em meios aos delírios da doença que as afastou da família.
Distraído em seus pensamentos, não percebeu que já se aproximava da grande e velha figueira. A lua pálida apareceu por entre umas nuvens escuras projetando no chão de terra batida a sombra da árvore com seus galhos que pareciam garras imensas prontas a pegar sua presa.
O homem parou. Um calafrio percorreu todo seu corpo e a lua escondeu-se mais uma vez atrás das negras nuvens parecendo não querer presenciar o que viria acontecer.
O homem queria correr mais era tarde demais, naquela noite ele viu pela primeira vez uma coisa horripilante que o fez tremer de pavor. Por trás da figueira ouviu um barulho estranho que vinha em sua direção: poc poc, poc poc, poc poc. Ele não esperou para ver saiu correndo só parando no boteco do seu Zé onde os homens se reuniam em noites frias para tomarem uns tragos.
Com os olhos arregalados contou a todos sua terrível experiência e foi aí que alguém que ouvia atentamente disse:
— isto parece uma vaca de tamanco!
Um fanfarrão criador de encrencas ao ouvir isto entrou na conversa e ridicularizou o homem dizendo:
— você correu foi de medo depois que passou o cemitério com suas almas penadas, o velho casarão com suas assombrações, só restava encarar a velha figueira! O que você ouviu foi algum animal seu medroso!
E ria de doer a barriga provocando a risada de todos.
O homem que aquentou tudo calado deu um basta e desafiou o fanfarrão. Olhando o relógio que se aproximava da meia noite disse:
— vá lá seu valentão e prove sua valentia! Você sempre riu de todos e diz que faz e acontece, vá lá agora e enfrente esta assombração!
O fanfarrão calou-se, afinal não era tão valente assim e ia saindo de mansinho.
Os homens cercaram-no dizendo:
— vá ou sua fama de valentão vai mudar para de um tremendo medroso. um ratinho!
Não vendo saída tomou o rumo da ruazinha deserta.
Com o coração aos pulos, a perna bamba e suando frio dizia consigo mesmo:
— eu não tenho medo! Assombração não existe! Sou valente!
Mas logo lembrava que todas as suas histórias de valentia eram inventadas.
Tremendo viu que se aproximava da grande figueira e o pavor tomou conta de seu corpo. Na escuridão viu um vulto que parecia uma vaca, era horrível e aquele barulho que fazia,parecia entrar em sua cabeça paralisando-o: toc toc, toc toc, toc toc.
Finalmente conseguiu sair daquele torpor e correu o quanto pode, chegando ao boteco quase desmaiando e com as calças molhadas.
Lógico que ele descreveu a cena muito mais feia do que era,para justificar todo o seu medo.
O fato é que desde àquela noite muitas pessoas passaram a evitar aquele local em noite escura. Outras não passam em noite alguma e as que resolveram se aventurar ouviram este barulho: toc toc, toc toc, toc toc.
O que uma vaca de tamanco quer com aqueles moradores?
Ninguém até hoje teve coragem de perguntar.
TIA DANDA |
Hoje ela conta para os pequenos como o menino Tallerson e assim a lenda continua.
Um abraço Tia Danda e um abraço Tallerson cuidado com a Vaca de Tamanco!
Lucia da Silva Araujo