Estamos na quaresma. Um tempo litúrgico que antecede a páscoa, celebrado por algumas igrejas.
No tempo de Bernardo era um tempo vivido com muita oração e penitencia por ele e sua mulher. Jejuavam e não comiam carne. Depois que Bernardo se converteu ao catolicismo ele não caçava neste período. (ver Semana Santa não é dia de caça).
Como ele era um contador de causos, este tempo tinha vários. Sempre ligado ao mistério, algo que a simples razão humana não explicaria. Como este:
Bernardo dizia a seus filhos e a quem quisesse ouvi-lo que na quaresma o mal e o bem travavam uma luta aqui na terra. Por isto as orações, jejuns e penitência se faziam necessário.
Jesus morreu na cruz para nos salvar libertando-nos do mal (satanás), satanás não quer perder esta luta e continua tentando os seres humanos a fazer toda espécie de maldade.
É nesta luta que satanás vigia os deslizes daqueles que não cumprem os preceitos da igreja, querendo trazer estas almas para ele a todo o custo. Assim um dia ele foi ter com Jesus e disse:
– Aquela viúva que você tanto ama te traiu e comeu carne em dia proibido.
Jesus que tudo ver, sabia que aquela mulher tinha matado a última galinha que tinha para se alimentar, por isto comeu e deu a seus filhos a carne daquela galinha, para matar a fome.
Satanás desafia a Jesus:
– Venha e eu te mostro os ossos prova do crime!
Jesus dizia:
– Ela não me traiu e me ama, Vá então e me mostre a prova que tens e eu permitirei que fiques com aquela alma.
Satanás ria, pois tinha afinal ganhado e trouxe correndo a panela com os ossos da galinha.
Jesus manda abri-la e quando satanás abriu viu que dentro da panela só tinha espinhas e escamas de peixe.
Saiu furioso e desapareceu deixando aquela viúva em paz.
Ele não contou com a infinita misericórdia de Deus.
O Tempo da Quaresma é o período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, sendo celebrado por algumas igrejas cristãs, dentre as quais a Católica[1] , a Ortodoxa[2] [3] , a Anglicana[4] , a Luterana[5] . https://pt.wikipedia.org/wiki/Quaresma
Há uma semana Bernardo e seus compadres se embrenharam na serra atrás de caça. Sua mulher como sempre, ficava a rezar para que, ele voltasse em segurança para casa. As crianças sentiam muito sua falta, as noites eram mais tristes e compridas sem as histórias e causos de Bernardo.
Assim passou-se a semana, que mais pareceu meses para os pequenos, embora eles não tivessem ainda uma noção de tempo sentiam em seus corações muita saudade.
Aquele foi mais um dia de espera, o dia inteiro eles esperaram, mas Bernardo não chegou e a noite caiu com sua costumeira neblina cobrindo toda a serra. A mãe fechou a casa e acendeu os lampiões. As crianças jantaram sabendo que seria mais uma noite sem histórias, a mulher de Bernardo bem tentava contar alguma história, mas não tinha o mesmo talento dele e ela acabava sempre contando a história da formiguinha. Não tinha assombração, nem saci e nem mula sem cabeça em suas histórias, talvez ela secretamente tivesse um medo terrível destes seres que povoavam o imaginário de Bernardo e suas crianças.
Até que um conhecido assobio rompeu o silêncio da noite, fazendo com que, as crianças se levantassem depressa. Era Bernardo, que enfim, chegara. Todos foram ao seu encontro recebendo-o com festas, o cachorro que não era um dos que ele levava para caça fazia muita festa ao ver o retorno de seu dono, como a dizer-lhe: olha fiz a minha parte e cuidei muito bem de sua família.
Bernardo descarregou as tralhas, colocou a espingarda pendurada no alto, onde sempre ficava à salvo da curiosidade das crianças menores.
Só que, algo estava errado, cadê as caças? No lugar Bernardo entregou palmito e um calderãozinho com arroz feito lá no rancho no meio da mata, que suas crianças sempre pediam para ele trazer, diziam que tinha um sabor delicioso.
Todos ficaram decepcionados, mas não ousaram fazer pergunta alguma. E assim foram para cama. Felizes pelo retorno de Bernardo, mas o que houve com a caça?
Ninguém sabia a resposta. Bernardo exausto logo foi dormir.
As crianças logo pegaram no sono, ficando só a mulher de Bernardo com seu rosário fazendo suas orações.
Só que não demorou muito e Bernardo acorda a todos gritando e mostrando alguma coisa que ninguém via. As crianças assustadas correram para perto da cama do pai e viram ele sentado falando algo incompreensível e sua mulher agarrada ao rosário rezando.
Bernardo voltara sem caça e agora isto. Seria o caipora que desta vez não havia permitido a entrada em sua mata?
Mesmo não perguntando nada a ninguém, disso as crianças não tinham dúvidas!
E assim foi mais uma aventura vivida por Bernardo.