HISTORIAS

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João e a Bruxa

          O dia passou cheio de deliciosas brincadeiras. As crianças viviam as aventuras contadas por Bernardo em suas Histórias. Aquela pequena casa de sapê era um palácio ou a casa de uma terrível bruxa, lugar onde os pequenos travavam enormes batalhas.  Pedaços  de paus eram armas poderosas, pequenas árvores eram carruagens e roupas emprestadas da mãe ou da irmã mais velha se transformavam nos mais belos trajes para princesa ou cavalheiro.

A bruxa! Ah! Esta podia ser um tronco velho retorcido que balançava ao vento, ou mesmo uma nuvem escura no céu lançando sua terrível sombra sobre eles. Ou algum desafeto que não caía nas graças dos pequenos, como por exemplo: a Binditona. 

 A noite estava chegando, a neblina já baixava a serra envolvendo a pequena casa. A mãe chama as crianças para casa é hora de se recolherem. O frio da serra já se faz mais intenso e o fogão à lenha aquece e prepara o jantar. Todos agora se reúnem ao redor do fogo. 

A noite cai, lá fora uma vez ou outra, se ouve o ruído de algum animal noturno. O piar da coruja faz calar por algum momento o alarido das crianças. Bernardo ainda não chegou e a mãe com ar preocupado espera atenta aos ruídos vindos da escuridão da noite. Até que um barulho conhecido se aproxima, é Bernardo chegando assoviando, a mulher abre a porta com um ar de alívio. 

E esta noite a história é esta:

Era uma vez, uma família muito pobre, os pais tinham muitos filhos  ainda pequenos. O mais velho chamado João, era já um rapazinho, mas muito novo e inexperiente. Queria muito ajudar seus pais, mas o que fazer? Assim, ele resolveu em uma noite sair sem falar com seus pais, pois sabia que se eles soubessem, não permitiria que ele partisse. E foi procurar ganhar algum dinheiro para ajudar sua família.

João andou muito se distanciando muito de sua casa. Procurou emprego em vários lugares, mas sempre houvia que ele era muito jovem para trabalhar, que não tinha experiência e tudo era muito difícil. O pão que João levou estava acabando e ele estava ficando com muita fome. Foi aí que viu lá longe uma fumaça. Seguiu por aquele caminho e encontrou um casebre, era um lugar estranho, não existia ninguém por perto. Ele aproximou-se da casa e viu uma velha muito feia que ao notá-lo saiu correndo em sua direção chamando-o:
—Venha cá, não tenha medo! 
A velha parecia ter boas intenções e ele resolveu ficar. Ela o convidou a entrar e ele disse-lhe que estava à procura de um trabalho.
A velha deu a ele um trabalho dizendo que pagaria quando fosse feito. Só que sempre que ele terminava uma tarefa, ela lhe dava outra com a mesma promessa. 
Assim passaram vários anos, e ele estava ficando muito triste, e com muita saudades de sua família. Sentia que não voltaria mais, e que a velha iria fazer alguma coisa muito ruim para ele.
Certo dia, logo pela manhã a velha chamou-o e mandou que ele buscasse muita lenha, pois ela ia fazer uma bela fogueira.
Triste ele foi buscar a lenha e quando cortava os galhos apareceu sua fada madrinha, uma velhinha muito boazinha e gentil. 
Perguntou a ele:
—O que fazes aqui tão longe de casa? 
Ele explicou e contou de seu pressentimento de que algo muito ruim iria acontecer.   
A bondosa velhinha concordou com ele e explicou: aquela velha é uma terrível bruxa que atrai jovens como você para ela e quando eles não servem mais aos seus caprichos ela os mata. É isto que ela está planejando para  você. 
Esta lenha é para fazer uma fogueira e pretende jogá-lo dentro. Chamando-o para dançar e te empurrando no fogo.
João ficou apavorado, mas a boa fada disse:
— Entre no jogo dela, e quando ela mandar que você dance ao redor da fogueira, diga que não sabe e peça a ela para mostrar como é. Ela não vai desconfiar de nada e vai começar a dançar em volta da fogueira. Aproveite e empurre-a  no fogo.
Quando ela gritar para você:
—Jogue água!
Você trocará a água por azeite quente, que ela deixou preparado para jogar quando você caísse na fogueira.
A fada madrinha deu estas e outras instruções para João, que voltou bem mais animado.
Tudo aconteceu como a fada madrinha havia dito.  A bruxa mandou que ele fizesse uma grande fogueira, depois pediu para ele dançar em volta. Ele lembrou-se do que a fada tinha dito e falou:
—Não sei dançar, me mostre por favor dançando para eu ver.
A bruxa concordou e saiu dançando com seu longo vestido em volta da fogueira. Um descuido e João colocou o pé na frente jogando a bruxa na fogueira.
A bruxa gritava por água e João jogava o azeite quente que acendia ainda mais a fogueira. 
De repente ouviu-se um estouro, a cabeça da bruxa estourou e saiu de dentro um enorme cachorro muito feroz. 
João de acordo com as instruções da fada gritou:
—Sultão! 
O cachorro ficou do lado direito de João. 
Mais um grande estouro se ouviu e um peito da bruxa estourou, desta vez saiu um cachorro ainda maior e mais feroz. 
João gritou: 
—Leão!
O cachorro ficou do  lado esquerdo.
Ouviu-se novamente outro estouro, era o outro peito da bruxa que explodiu. Desta vez saiu uma enorme cachorra, ainda mais brava que os dois cachorros.
João gritou:
—Diana!
A cachorra deitou-se a sua frente.
A fogueira consumiu a bruxa e João pegou suas poucas coisas e partiu daquele terrível lugar. Os três cachorros o acompanharam. O Sultão de um lado, o Leão do outro e a Diana ia à frente como que a indicar o caminho.
Assim os três viajaram um bom tempo, até que chegaram a um reino. O lugar era muito bonito, o palácio do rei muito rico com suas torres decoradas de pedras preciosas, mas João percebeu uma tristeza muito grande nas pessoas daquele reino. Procurou saber o motivo de tanta tristeza, e foi informado que um terrível dragão ameaçava a cidade todas as noites, e para que ele não destruísse tudo ao seu redor era oferecido em sua caverna uma linda jovem. 
João continuou sua investigação, e soube que naquela noite seria oferecida ao dragão a bela princesa.
A noite caiu, horripilante e fria! A princesa foi amarrada na entrada da caverna! Tudo era sombrio e escuro, os soldados se afastaram, pois já se ouviam o urrar do dragão e o estremecer do chão com suas passadas. 
João que tudo observava de longe, aproximou-se e com grande valentia ele e seus três cachorros lançaram-se contra o dragão. 
Sultão era muito forte, Leão muito corajoso e Diana muito esperta. Com ajuda dos três João derrotou  o dragão.
Libertou a princesa e a levou de volta para o palácio. Foi uma festa tremenda, João e a princesa ficaram noivos e logo se casariam e ele ficaria no lugar do rei, que queria se aposentar.
Assim João foi buscar sua família para morar com ele. E viveram felizes para sempre. Com o Sultão, Leão e Diana como guardas reais.