HISTORIAS

HISTORIAS

O DESPERTAR



Quem ou o quê me despertou?
Das quimeras desta vida?
Era feliz no sonho que tranquila dormia
Não o corpo, mas a alma
Que inocente vivia!

Oh! Criança adormecida
Lá na serra tu ficastes
Olhando o rio que corria

E brilhava feito prata!


Cadê meu canto encantado?
Meu milharal  dourado
Por onde  livre corria
Para depois refrescar-me
Nas  águas doces do rio!

 Meu sonho cresceu demais
Que  em ti já não cabia
Fui embora, não olhei para trás
Era feliz, mas não sabia!

Andei por muitos lugares
Conheci outros amores
Outros castelos de sonho
Acabei por construir
Mas se pudesse voltava
Naquele canto encantado
E mergulhando em seus braços
 e eternamente dormia!



A VACA DE TAMANCO, A ASSOMBRAÇÃO DE VARGEM ALEGRE

O imaginário popular vê com desconfiança e medo alguns elementos tais como: a figueira, o gato preto, casarão antigo e arredores de cemitério, entre outros. Há pessoas que chegam a evitar estes lugares, principalmente à noite.
Esta história aconteceu num vilarejo do Estado do Rio de Janeiro chamado Vargem Alegre. Cortado pelo Rio Paraíba do Sul e a linha férrea com seus pesados vagões de trem, que à noite passavam apitando e rolando estridentemente sobre os trilhos.
Neste vilarejo funcionou até a década de 90 um hospital psiquiátrico de grande porte, cuja hala das mulheres e administrativa do hospital ficavam instaladas no antigo casarão do Barão de Vargem Alegre. Do nobre casarão hoje só restam as ruínas.
Imaginem: ali numa mesma rua, mexendo com a imaginação popular, o velho casarão que já presenciara muitas histórias, o cemitério do vilarejo e uma velha figueira, que silenciosos a tudo via, a tudo ouvia nos seus longos anos.
Aconteceu numa destas noites escuras, com nuvens negras no céu e uma lua pálida que teimava em se esconder por entre elas. Tornando uma escuridão que sufocava.
 Um homem caminhava por esta rua, que àquela hora da noite  e com um vento frio que uivava feito um bicho, se encontrava totalmente deserta.
Nenhuma alma viva, pensava ele, ouvindo sua respiração ofegante e as batidas de seu coração, entre um uivar e outro do vento.
Caminhou devagar, passou pelo cemitério e meio desconfiado olhou o muro e o portão e se benzeu. Continuou seu caminho passando pelo velho casarão, respirou fundo, ali tudo estava quieto. Pensou nas mulheres internadas. Que histórias elas teriam? Ninguém sabia ao certo a história de muitas delas, apenas suposições em meios aos delírios da doença que as afastou da família.
Distraído em seus pensamentos, não percebeu que já se aproximava da grande e velha figueira. A lua pálida apareceu por entre umas nuvens escuras projetando no chão de terra batida a sombra da árvore com seus galhos que pareciam garras imensas prontas a pegar sua presa.
O homem parou. Um calafrio percorreu todo seu corpo e a lua escondeu-se mais uma vez atrás das negras nuvens parecendo não querer presenciar o que viria acontecer.
O homem queria correr mais era tarde demais, naquela noite ele viu pela primeira vez uma coisa horripilante que o fez tremer de pavor. Por trás da figueira ouviu um barulho estranho que vinha em sua direção: poc poc, poc poc, poc poc. Ele não esperou para ver saiu correndo só parando no boteco do seu Zé onde os homens se reuniam em noites frias para tomarem uns tragos.
Com os olhos arregalados contou a todos sua terrível experiência e foi aí que alguém que ouvia atentamente disse:
— isto parece uma vaca de tamanco!
Um fanfarrão criador de encrencas ao ouvir isto entrou na conversa e ridicularizou o homem dizendo:
— você correu foi de medo depois que passou o cemitério com suas almas penadas, o velho casarão com suas assombrações, só restava encarar a velha figueira! O que você ouviu foi algum animal seu medroso!
E ria de doer a barriga provocando a risada de todos.
O homem que aquentou tudo calado deu um basta e desafiou o fanfarrão. Olhando o relógio que se aproximava da meia noite disse:
— vá lá seu valentão e prove sua valentia! Você sempre riu de todos e diz que faz e acontece, vá lá agora e enfrente esta assombração!
O fanfarrão calou-se, afinal não era tão valente assim e ia saindo de mansinho.
Os homens cercaram-no dizendo:
— vá ou sua fama de valentão vai mudar para de um tremendo medroso. um ratinho!
Não vendo saída  tomou o rumo da ruazinha deserta.
Com o coração aos pulos, a perna bamba e suando frio dizia consigo mesmo:
— eu não tenho medo! Assombração não existe! Sou valente!
 Mas logo lembrava que todas as suas histórias de valentia eram inventadas.
Tremendo viu que se aproximava da grande figueira e o pavor tomou conta de seu corpo. Na escuridão viu um vulto que parecia uma vaca, era horrível e aquele barulho que fazia,parecia entrar em sua cabeça paralisando-o: toc toc, toc toc, toc toc.
Finalmente conseguiu sair daquele torpor e correu o quanto pode, chegando ao boteco quase desmaiando e com as calças molhadas.
Lógico que ele descreveu a cena muito mais feia do que era,para justificar todo o seu medo.
O fato é que desde àquela noite muitas pessoas passaram a evitar aquele local em noite escura. Outras não passam em noite alguma e as que resolveram se aventurar ouviram este barulho: toc toc, toc toc, toc toc.
O que uma vaca de tamanco quer com aqueles moradores?
Ninguém até hoje teve  coragem de perguntar.


TIA DANDA
Esta história quem me contou foi uma moradora de Vargem Alegre RJ,a tia Danda. Ela disse-me que sua mãe contava para ela quando criança e que ainda tem um certo medo da vaca de tamanco.
Hoje ela conta para os pequenos como o menino Tallerson e assim a lenda continua.
Um abraço Tia Danda e um abraço Tallerson cuidado com a Vaca de Tamanco!
Lucia da Silva Araujo

A menina dos contos de fadas



E o tempo passou
A menina dos contos de fadas 
Dos sacis e caiporas
Das iaras mães dáguas
Cresceu, envelheceu, 
A casinha de sua infância.
Lá ficou em outras mãos, presenciando outros sonhos.
Outras histórias.
A menina partiu levando consigo só suas memórias,
As histórias que ouviu, com prazer a outros conta
Outros olhinhos que brilham outra imaginação que viaja
Pelas terras do faz de conta.
E a menina que vive em sua imaginação, continua.
E através dela ela volta lá nas serras, a beira rio.
E viaja novamente nas lindas noites de lua.
Lucia



Contos do Tempo da Quaresma







Estamos na quaresma. Um tempo litúrgico que antecede a páscoa, celebrado por algumas igrejas.
No tempo de Bernardo era um tempo vivido com muita oração e penitencia por ele e sua mulher. Jejuavam e não comiam carne. Depois que Bernardo se converteu ao catolicismo ele não caçava neste período. (ver Semana Santa não é dia de caça).
Como ele era um contador de causos, este tempo tinha vários. Sempre ligado ao mistério, algo que a simples razão humana não explicaria. Como este:
Bernardo dizia a seus filhos e a quem quisesse ouvi-lo que na quaresma o mal e o bem travavam uma luta aqui na terra. Por isto as orações, jejuns e penitência se faziam necessário.
Jesus morreu na cruz para nos salvar libertando-nos do mal (satanás), satanás não quer perder esta luta e continua tentando os seres humanos a fazer toda espécie de maldade. 
É nesta luta que satanás vigia os deslizes daqueles que não cumprem os preceitos da igreja, querendo trazer estas almas para ele a todo o custo. Assim um dia ele foi ter com Jesus e disse:
– Aquela viúva que você tanto ama te traiu e comeu carne em dia proibido.
Jesus que tudo ver, sabia que aquela mulher tinha matado a última galinha que tinha para se alimentar, por isto comeu e deu a seus filhos a carne daquela  galinha, para matar a fome. 
Satanás desafia a Jesus:
– Venha e eu te mostro os ossos prova do crime!
Jesus dizia:
– Ela não me traiu e me ama, Vá então e me mostre a prova que tens e eu permitirei que fiques com aquela alma.
Satanás ria, pois tinha afinal ganhado e trouxe correndo a panela com os ossos da galinha.
Jesus manda abri-la e quando satanás abriu viu que dentro da panela só tinha espinhas e escamas de peixe.
Saiu furioso e desapareceu deixando aquela viúva em paz. 
Ele não contou com a infinita misericórdia de Deus.

Tempo da Quaresma é o período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, sendo celebrado por algumas igrejas cristãs, dentre as quais a Católica[1] , a Ortodoxa[2] [3] , a Anglicana[4] , a Luterana[5] . https://pt.wikipedia.org/wiki/Quaresma 

Seria o caipora?

Há uma semana Bernardo e seus compadres se embrenharam na serra atrás de caça. Sua mulher como sempre, ficava a rezar para que, ele voltasse em segurança para casa. As crianças sentiam muito sua falta, as noites eram mais tristes e compridas sem as histórias e causos de Bernardo. 
Assim passou-se a semana, que mais pareceu meses para os pequenos, embora eles não tivessem ainda uma noção de tempo sentiam em seus corações muita saudade. 
Aquele foi mais um dia de espera, o dia inteiro eles esperaram, mas Bernardo não chegou e a noite caiu com sua costumeira neblina cobrindo toda a serra. A mãe fechou a casa e acendeu os lampiões. As crianças jantaram sabendo que seria mais uma noite sem histórias, a mulher de Bernardo bem tentava contar alguma história, mas não tinha o mesmo talento dele e ela acabava sempre contando a história da formiguinha. Não tinha assombração, nem saci e nem mula sem cabeça em suas histórias, talvez ela secretamente tivesse um medo terrível destes seres que povoavam o imaginário de Bernardo e suas crianças. 
Até que um conhecido assobio rompeu o silêncio da noite, fazendo com que, as crianças se levantassem depressa. Era Bernardo, que enfim, chegara. Todos foram ao seu encontro recebendo-o com festas,  o cachorro que não era um dos que ele levava para caça fazia muita festa ao ver o retorno de seu dono, como a dizer-lhe: olha fiz a minha parte e cuidei muito bem de sua família.  
Bernardo descarregou as tralhas, colocou a espingarda pendurada no alto, onde sempre ficava à salvo da curiosidade das crianças menores. 
Só que, algo estava errado, cadê as caças? No lugar Bernardo entregou palmito e um calderãozinho com arroz feito lá no rancho no meio da mata, que suas crianças sempre pediam para ele trazer, diziam que tinha um sabor delicioso.
Todos ficaram decepcionados, mas não ousaram fazer pergunta alguma. E assim foram para cama. Felizes pelo retorno de Bernardo, mas o que houve com a caça?
Ninguém sabia a resposta. Bernardo  exausto  logo foi dormir. 
As crianças logo pegaram no sono, ficando só a mulher de Bernardo com seu rosário fazendo suas orações. 
Só que não demorou muito e Bernardo acorda a todos gritando e mostrando alguma coisa que ninguém via.  As crianças assustadas correram para perto da cama do pai e viram ele sentado falando algo incompreensível e sua mulher agarrada ao rosário rezando.
Bernardo voltara sem caça e agora isto. Seria o caipora que desta vez não havia permitido a entrada em sua mata? 
Mesmo não perguntando nada a ninguém, disso as crianças não tinham dúvidas!
E assim foi mais uma aventura vivida por Bernardo.

João e a Bruxa

          O dia passou cheio de deliciosas brincadeiras. As crianças viviam as aventuras contadas por Bernardo em suas Histórias. Aquela pequena casa de sapê era um palácio ou a casa de uma terrível bruxa, lugar onde os pequenos travavam enormes batalhas.  Pedaços  de paus eram armas poderosas, pequenas árvores eram carruagens e roupas emprestadas da mãe ou da irmã mais velha se transformavam nos mais belos trajes para princesa ou cavalheiro.

A bruxa! Ah! Esta podia ser um tronco velho retorcido que balançava ao vento, ou mesmo uma nuvem escura no céu lançando sua terrível sombra sobre eles. Ou algum desafeto que não caía nas graças dos pequenos, como por exemplo: a Binditona. 

 A noite estava chegando, a neblina já baixava a serra envolvendo a pequena casa. A mãe chama as crianças para casa é hora de se recolherem. O frio da serra já se faz mais intenso e o fogão à lenha aquece e prepara o jantar. Todos agora se reúnem ao redor do fogo. 

A noite cai, lá fora uma vez ou outra, se ouve o ruído de algum animal noturno. O piar da coruja faz calar por algum momento o alarido das crianças. Bernardo ainda não chegou e a mãe com ar preocupado espera atenta aos ruídos vindos da escuridão da noite. Até que um barulho conhecido se aproxima, é Bernardo chegando assoviando, a mulher abre a porta com um ar de alívio. 

E esta noite a história é esta:

Era uma vez, uma família muito pobre, os pais tinham muitos filhos  ainda pequenos. O mais velho chamado João, era já um rapazinho, mas muito novo e inexperiente. Queria muito ajudar seus pais, mas o que fazer? Assim, ele resolveu em uma noite sair sem falar com seus pais, pois sabia que se eles soubessem, não permitiria que ele partisse. E foi procurar ganhar algum dinheiro para ajudar sua família.

João andou muito se distanciando muito de sua casa. Procurou emprego em vários lugares, mas sempre houvia que ele era muito jovem para trabalhar, que não tinha experiência e tudo era muito difícil. O pão que João levou estava acabando e ele estava ficando com muita fome. Foi aí que viu lá longe uma fumaça. Seguiu por aquele caminho e encontrou um casebre, era um lugar estranho, não existia ninguém por perto. Ele aproximou-se da casa e viu uma velha muito feia que ao notá-lo saiu correndo em sua direção chamando-o:
—Venha cá, não tenha medo! 
A velha parecia ter boas intenções e ele resolveu ficar. Ela o convidou a entrar e ele disse-lhe que estava à procura de um trabalho.
A velha deu a ele um trabalho dizendo que pagaria quando fosse feito. Só que sempre que ele terminava uma tarefa, ela lhe dava outra com a mesma promessa. 
Assim passaram vários anos, e ele estava ficando muito triste, e com muita saudades de sua família. Sentia que não voltaria mais, e que a velha iria fazer alguma coisa muito ruim para ele.
Certo dia, logo pela manhã a velha chamou-o e mandou que ele buscasse muita lenha, pois ela ia fazer uma bela fogueira.
Triste ele foi buscar a lenha e quando cortava os galhos apareceu sua fada madrinha, uma velhinha muito boazinha e gentil. 
Perguntou a ele:
—O que fazes aqui tão longe de casa? 
Ele explicou e contou de seu pressentimento de que algo muito ruim iria acontecer.   
A bondosa velhinha concordou com ele e explicou: aquela velha é uma terrível bruxa que atrai jovens como você para ela e quando eles não servem mais aos seus caprichos ela os mata. É isto que ela está planejando para  você. 
Esta lenha é para fazer uma fogueira e pretende jogá-lo dentro. Chamando-o para dançar e te empurrando no fogo.
João ficou apavorado, mas a boa fada disse:
— Entre no jogo dela, e quando ela mandar que você dance ao redor da fogueira, diga que não sabe e peça a ela para mostrar como é. Ela não vai desconfiar de nada e vai começar a dançar em volta da fogueira. Aproveite e empurre-a  no fogo.
Quando ela gritar para você:
—Jogue água!
Você trocará a água por azeite quente, que ela deixou preparado para jogar quando você caísse na fogueira.
A fada madrinha deu estas e outras instruções para João, que voltou bem mais animado.
Tudo aconteceu como a fada madrinha havia dito.  A bruxa mandou que ele fizesse uma grande fogueira, depois pediu para ele dançar em volta. Ele lembrou-se do que a fada tinha dito e falou:
—Não sei dançar, me mostre por favor dançando para eu ver.
A bruxa concordou e saiu dançando com seu longo vestido em volta da fogueira. Um descuido e João colocou o pé na frente jogando a bruxa na fogueira.
A bruxa gritava por água e João jogava o azeite quente que acendia ainda mais a fogueira. 
De repente ouviu-se um estouro, a cabeça da bruxa estourou e saiu de dentro um enorme cachorro muito feroz. 
João de acordo com as instruções da fada gritou:
—Sultão! 
O cachorro ficou do lado direito de João. 
Mais um grande estouro se ouviu e um peito da bruxa estourou, desta vez saiu um cachorro ainda maior e mais feroz. 
João gritou: 
—Leão!
O cachorro ficou do  lado esquerdo.
Ouviu-se novamente outro estouro, era o outro peito da bruxa que explodiu. Desta vez saiu uma enorme cachorra, ainda mais brava que os dois cachorros.
João gritou:
—Diana!
A cachorra deitou-se a sua frente.
A fogueira consumiu a bruxa e João pegou suas poucas coisas e partiu daquele terrível lugar. Os três cachorros o acompanharam. O Sultão de um lado, o Leão do outro e a Diana ia à frente como que a indicar o caminho.
Assim os três viajaram um bom tempo, até que chegaram a um reino. O lugar era muito bonito, o palácio do rei muito rico com suas torres decoradas de pedras preciosas, mas João percebeu uma tristeza muito grande nas pessoas daquele reino. Procurou saber o motivo de tanta tristeza, e foi informado que um terrível dragão ameaçava a cidade todas as noites, e para que ele não destruísse tudo ao seu redor era oferecido em sua caverna uma linda jovem. 
João continuou sua investigação, e soube que naquela noite seria oferecida ao dragão a bela princesa.
A noite caiu, horripilante e fria! A princesa foi amarrada na entrada da caverna! Tudo era sombrio e escuro, os soldados se afastaram, pois já se ouviam o urrar do dragão e o estremecer do chão com suas passadas. 
João que tudo observava de longe, aproximou-se e com grande valentia ele e seus três cachorros lançaram-se contra o dragão. 
Sultão era muito forte, Leão muito corajoso e Diana muito esperta. Com ajuda dos três João derrotou  o dragão.
Libertou a princesa e a levou de volta para o palácio. Foi uma festa tremenda, João e a princesa ficaram noivos e logo se casariam e ele ficaria no lugar do rei, que queria se aposentar.
Assim João foi buscar sua família para morar com ele. E viveram felizes para sempre. Com o Sultão, Leão e Diana como guardas reais.