Ela criava patos e fazia isto com muito carinho. As crianças ficavam vigiando para ver quando os primeiros ovinhos começavam a trincar, pois era o sinal do nascimento. Logo uma ninhada de patinhos amarelinhos estariam a correr e a nadar no pequeno córrego feito para eles. Na verdade era uma pequena vala que se abria desde uma torneira e escorria até a várgea próxima a casa, onde ficava a horta.
Naquela época, a água jorrava com fartura vinda das serras e ninguém ouvia falar em falta de água. Era água cristalina, fresca e que se tomava ali mesmo sem ser filtrada.
Mas caboclo não é nada bobo e Bernardo fez da seguinte forma: em baixo da torneira colocou um grande tonel que era furado, em cima uma grande bacia, que de velha estava também furada. Assim ela servia de apoio para todas as necessidades da família: lavar a louça, a roupa, as verduras colhidas da horta e tudo que precisasse de água. Ao escorrer aquela água ia para um pequeno lago, (pequeníssimo), mas para os patinhos recém nascido era um grande lago, onde levados pela mamãe pata nadavam e nadavam. Esta mesma água escorria por uma vala e ia umedecer o solo da horta, desta forma toda água era aproveitada.
Voltamos aos patinhos, causa da preocupação e do vilão gato. Aquela ninhada era especial, patinhos amarelinhos que saíram de todos os ovos, não gorou nenhum. A mulher de Bernardo, aparava o rabinho de todos eles com uma tesoura, para que os mesmos não esbarrassem na lama. Este acontecimento era feito logo após o nascimento e era uma festa para as crianças. A mamãe pata ficava muito enciumada de sua ninhada, por isto não deixava ninguém se aproximar de sua cria, e isto era muito divertido para as crianças vê-la abrir as asas e partir para cima de quem quer que se aproximasse de sua ninhada. Este privilégio só a mulher de Bernardo tinha.
Mas, havia na casa um gato, parecido com uma oncinha. Bernardo dizia que ele poderia ser filho de gato do mato. Este gato enganava a mamãe pata e sorrateiramente pulava em cima de um dos patinhos e corria para a mata. Indo comer sua presa longe dos olhos de todos, depois voltava com a maior cara de pau. De um em um, a ninhada estava acabando e a paciência de Bernardo também.
Aquela noite estava muito escura, as crianças estavam um pouco amedrontadas, pois o gato aprontara novamente e comera mais um patinho.
Chegou a tão temida hora para as crianças, a mulher de Bernardo reclamou mais uma vez: o gato comeu mais um patinho. Foi a gota d'água, Bernardo levantou-se pegou sua garrucha e foi acertar contas com o danado do gato. As crianças tamparam o ouvido, pois não queriam ouvir o tiro.
Um pouco depois retornou Bernado dizendo que acertou o danado na testa, mas ele pulou e sumiu. De certo foi morrer na mata.
Passou-se semanas do acontecido, as crianças voltaram a sua rotina já esquecidas do triste episódio.
Era noite de lua cheia, o terreiro todo estava iluminado pela grande lua, podendo se ver a várgea e a horta. Os patos dormiam no quintal tranquilos sem a ameaça do terrível gato.
Na cozinha Bernardo, a mulher e as crianças conversavam animados e de repente, um barulho vindo da janela, chamou a atenção de todos. No clarão da lua o gato ressurgido da morte aparece, as crianças gritam com medo. Seria um fantasma? Bernardo o pega e examina, depois mostra a cicatriz no meio da testa do gato e diz: olha que danado, o tiro o pegou de raspão saindo a bala por cima da cabeça. Ele estava magro e faminto. As crianças correram felizes por não se tratar de um fantasma e trataram de dar comida para o gato. Assim ele viveu feliz para sempre e curiosamente nunca mais comeu os patinhos.