Era
início de inverno, a serra estava coberta por uma branca neblina desde à tarde.
Bernardo chegou do trabalho e iniciou seu velho ritual: sua higiene, seu
cafezinho e o cigarrinho de palha perto do fogão à lenha que aquecia e deixava
aconchegante. Aquele era o lugar preferido da família nestas tardes frias. A
noite logo caiu deixando tudo mais frio ainda. Não havia nem lua e nem
estrelas, a escuridão tomou conta de tudo. Após o jantar as crianças umas
enroladas em cobertor perto das brasas que aquecia, esperavam com certa
impaciência o momento que Bernardo iniciaria a história da noite. Bernardo
começou a conversar com eles sobre como era importante ter uma casa
aconchegante, como seria ficar lá fora ao relento e que todas as criaturas
tinham suas casas para se abrigarem em noites como aquelas. E contou para eles
esta história:
A casa do macaco com a onça
O
macaco muito esperto andava o dia todo procurando um lugar adequado para fazer
sua casa, pois o inverno se aproximava. Andou, andou, mas, não encontrou lugar algum que o agradasse.
À
noite a onça com seus hábitos noturnos andava a procura de um lugar para fazer
sua casa, o inverno não tarda a chegar, pensava ela. Andou, andou e achou um
lugar muito bom. Era todo plano e passava bem perto uma fonte de águas
cristalinas para ela matar a sede. Não pensou duas vezes e se pôs a trabalhar.
Trabalhou toda a noite, deixou o terreno limpinho, cansada do trabalho, pois o
dia já estava clareando foi tirar um merecido cochilo lá nas pedras mais altas,
onde o sol da manhã logo aqueceria.
O
macaco acordou cedinho e começou sua procura. Aqui não dá tem muita pedra
pensava, aqui não dá tem muito espinho e assim continuou até que se deparou com
o terreno que a onça havia limpado à noite. Que beleza! exclamou o macaco, é
isto que estou procurando, perfeito e limpinho bem perto da nascente. Vou
começar minha casa agora mesmo, sem perder tempo. Cortou os paus para fazer os
esteios da casa, bambu para as paredes e cipós para amarrar. O dia passou nesta
labuta e ele cansado viu que já era hora de parar para descansar, pois a noite
ia chegando.
A
onça saiu toda contente depois de um bom dia de descanso, alimentou-se e foi
correndo para ver seu terreno e começar a sua tão sonhada casa. Quando chegou
ao local viu com surpresa os paus, bambus e cipós que o macaco havia deixado e
pensou: que bom! Deus tá me ajudando. Fincou os paus nos quatros cantos e
começou a amarrar os bambus. Trabalhou toda a noite e ao clarear o dia foi
descansar.
O
macaco acordou com o sol fraco e um ventinho que prenunciava a chegada do
inverno e pensou: vou correr com a minha construção para dar tempo de fazê-la
antes que o inverno chegue. Ao chegar ao terreno viu que as paredes já estavam
começadas e pensou: que bom! Deus tá me ajudando. Terminou de amarrar os bambus
e pegou terra o suficiente para embolsar a parede. Já era tarde e cansado foi
procurar onde dormir.
A
noite chegou e a onça ansiosa correu para o terreno para trabalhar na sua tão
sonhada casa. E surpresa viu que os bambus já estavam amarrados e até a terra
já estava ali e disse: que bom! Deus tá me ajudando. Pegou a terra misturou com água amassou bem e
fez o barro e começou a embolsar a casa. Trabalhou a noite toda e cansada ao
amanhecer foi dormir.
Logo
cedinho acorda o macaco e saiu correndo para ver sua construção e logo ao
chegar viu que as paredes já estavam embolsadas e pensou: que bom! Deus tá me
ajudando. E saiu correndo para pegar as palhas para cobrir a casa. Trabalhou o
dia todo colhendo palhas levou-as para o terreno e a noite já ia chegando. Ele
cansado foi dormir.
A
noite chegou e a onça correu para ver sua construção e quando chegou viu as
palhas que o macaco tinha colhido e pensou: que bom! Deus tá me ajudando. Pegou
o cipó e trançou as palhas para cobrir a casa, colocou as vigas de pau para a
cumeeira e cansada retirou-se ao amanhecer.
O
macaco mal o sol raiou, pulou e correu para a casa que agora estava quase
pronta. Encontrou tudo a ponto de colocar a cobertura e disse: que bom! Deus tá
me ajudando e assim terminou a casa. Cansado viu que anoitecia e resolveu
voltar para o lugar em que dormia e no dia seguinte mudaria para casa logo que
o sol raiasse. Contente e pulando saiu correndo e já longe, ainda voltou-se
para admirar sua obra.
Anoiteceu.
A noite estava escura e fria, e um vento soprava forte, o inverno havia chegado.
A onça saiu e logo estava em sua construção, imaginava que naquela noite
terminaria sua obra. Chegou e de longe viu a casa terminada e disse: que bom!
Deu está me ajudando e assim poderei caçar a noite toda e ao amanhecer terei
uma casa para repousar.
O
macaco rodou o dia inteiro à procura de coisas para a casa nova. Foi colher
frutas e arrumar bastante palha sequinha para fazer seu ninho quentinho e ao
anoitecer chegou feliz da vida em sua casa. Entrou e estranhamente viu que
alguém tinha entrado em sua casa. Coçou a cabeça, olhou para um lado, olhou
para o outro e tudo estava quieto nenhum barulho se ouvia. Resolveu então
ignorar aquela sensação estranha e tratou de fazer seu ninho para aquecer-se. A noite passou e mais um dia começou trazendo
a luz e o barulhinho que faziam todos os animais do dia. Ele contente saiu para
trabalhar e trazer seu sustento.
A
onça logo chegou a casa abrindo a boca de sono, tinha caçado a noite inteira.
Sentiu a mesma sensação do macaco, mas ignorou e logo dormiu no ninho que o
macaco fizera.
Vários
dias se passaram o macaco com sua vida e a onça com a dela, um de noite e o
outro de dia. Mas eles estavam ficando com medo, as coisas apareciam, mudavam
de lugar, eram arrumadas sem que eles desconfiassem quem as arrumou e os dois
comentavam com seus amigos sobre a estranha casa desde a sua construção, parecia
que ela tinha vida própria.
A
casa estava se tornando famosa naquela região, todos os bichos contavam da
estranha casa e como quem conta um conto aumenta um ponto a casa ficou com fama
de mal assombrada. Foi assim, que com medo, tanto o macaco como a onça,
desistiu da casa indo passar o resto do inverno em uma toca improvisada. E até
hoje quem passar por aquelas bandas irão ver aquela estranha casa abandonada no
meio do mato.