Homenagem ao Dia dos Pais.
Mais uma vez encontro-me aqui para contar-lhes uma história que
Bernardo contava. Desta vez faço uma pequena homenagem ao "Dia Dos Pais"
Como na maioria dos contos de fadas, as madrastas eram sempre
más, esta não é exceção. Não era segredo que as crianças de Bernardo viviam em
seu imaginário o desafio de enfrentar madrastas e bruxas, para no final
encontrarem-se com suas fadas madrinhas. Era assim que eles cresciam e venciam
seus medos e Bernardo sabia trabalhar muito bem estes medos inconscientes através de
suas histórias.
Bernardo chegou com o frio do inverno que fazia anoitecer mais
cedo e a garoa fina escorrendo pelo seu chapéu, deixava pequenas gotas de água.
Como sempre foi recebido com festas pelos pequenos, logo após o jantar contaria
histórias ao lado do fogão cujas brasas aqueciam toda cozinha.
Oficina do Gif |
Era uma vez, um homem que
ficou viúvo com uma filhinha ainda criança. Sua filha era muito pequenina e
frágil e ele se preocupava muito com ela. Como faria para trabalhar? Com quem
deixaria sua pequena?
Mariazinha era como ele a chamava, ela era tudo para ele, o bem
mais precioso, ainda mais agora que ele havia perdido sua amada esposa.
Pensou muito e tomou uma decisão: iria casar novamente, arrumaria outra
mãe para Mariazinha.
Havia naquele povoado, uma mulher que também ficara viúva e com
duas filhas para criar. Resolveu então pedir esta mulher em casamento, ele a
ajudaria com suas filhas e ela cuidaria de Mariazinha. Explicou-lhe tudo de
como Mariazinha estava triste sentindo a falta da mãe, de como ela era frágil, e
dos cuidados que precisava. A mulher prometeu ser uma segunda mãe para
Mariazinha, que ele ficasse despreocupado, que daquele dia em diante sua
querida filhinha estaria aos seus cuidados. Assim eles acertaram tudo e casaram
passando a viúva com suas duas filhas a morar na casa do pai de Mariazinha.
Mas, as coisas não deram como o planejado. Aos poucos a viúva
mostrou suas garras, logo que o marido saía para o trabalho, fazia Mariazinha
cuidar de tudo sozinha. Tinha que limpar a casa, cozinhar e ainda cuidar de
toda a roupa. A vida da frágil menina tornou-se um inferno, ainda sofria com as
ameaças da madrasta que dizia que inventaria um montão de coisas para o pai, e
que com certeza ele acreditaria, pois afinal ele havia se casado com ela, e ele confiava plenamente em sua palavra.
Com o passar do tempo Mariazinha foi percebendo que também seu pai
não estava feliz e por isto, para não fazê-lo sofrer ainda mais ela tudo sofria
calada.
Os poucos bens que ele tinha a mulher exigiu que passasse para seu
nome alegando que ele viajava muito a trabalho e ela tinha que ficar resolvendo
as coisas para ele. O único bem que restou em seu nome foi uma velha vaquinha
que ele dera de presente a Mariazinha quando ela nasceu.
Mariazinha continuou sua luta fazendo tudo para a madrasta, mas
ela já não aquentava mais, estava exausta.
Certo dia, quando ela saiu com as roupas para lavar no rio próximo
a casa, notou que sua vaquinha a acompanhava. Ficou feliz, afinal ela era sua
fiel companheira de infância. Chegando lá colocou as roupas em uma gamela e
começou a esfregar. Suas mãos frágeis já sangravam quando ouviu uma voz.
Voltou-se e qual foi sua surpresa quando viu sua vaquinha falando com ela:
─ Mariazinha, de agora em diante eu ajudarei em suas tarefas, mas
temos que tomar muito cuidado, ninguém pode desconfiar de nada.
Após o espanto, Mariazinha confiou na amiga e seguia todas as suas
instruções.
A roupa a vaquinha mastigava e já saía limpinha e passada, com uma
maciez e perfume nunca visto. A casa da mesma forma bastava à vaquinha dar uma
lambida que tudo ficava brilhando.
Mariazinha tinha até
crescido, pois já não fazia grandes esforços e estava feliz com sua vaquinha.
Porém a madrasta começou a desconfiar e resolveu vigiar a menina
até que descobriu toda a verdade sobre a vaquinha. Com muita raiva, inventou
que estava louca de desejo de comer a carne da vaquinha de Mariazinha. O pai da menina ainda tentou tirar isto da
cabeça da mulher, pois sabia que sua filha amava aquela vaquinha como uma irmã.
Mariazinha diante da situação chorava desesperada, foi aí que mais
uma vez a vaquinha falou com ela:
─ Mariazinha, eu sei de
tudo que está acontecendo, mas não chores mais, não fique tão triste eu já
estou velha e logo irei morrer mesmo, deixe seu pai fazer o desejo daquela
mulher só exija uma coisa: os meus miúdos. Assim a vaquinha convenceu
Mariazinha a ceder mais uma vez aos caprichos da madrasta ensinando-a tudo que
deveria fazer.
A menina foi ter com o pai e fez como sua amiga havia falado. A
madrasta ao ficar sabendo deu de ombros e disse:
─ Tudo bem ela pode ficar com os miúdos, a mim só interessa a
carne.
Mariazinha pegou os miúdos e fez o que a vaquinha disse: lavou-os
e colocou-os na gamela, depois colocou a gamela no rio e com uma varinha a
empurrou para a correnteza. Como a vaquinha dissera, a gamela deslizou suavemente
pelo leito do rio. Mariazinha acompanhou até que, já longe dali a gamela parou
na margem do rio.
A menina pegou a gamela e saiu do rio caminhando por um caminho
cheio de flores perfumadas. Logo avistou uma pequena casinha. Entrou e
espantou-se com tanta desarrumação, tudo estava fora do lugar e o fogão frio
com as chamas apagadas.
Mariazinha tudo arrumou, depois com os miúdos de sua vaquinha
preparou um delicioso e cheiroso almoço. Quando tudo já estava pronto ouviu um
barulho e com medo escondeu-se atrás da porta.
Eis que as donas da casa chegam ruidosas e alegres, voando com
suas asas coloridas e suas varinhas de condão.
Mariazinha não acreditava no que seus olhos viam e estava confusa com
seus pensamentos. Estaria sonhando tudo aquilo? Iria acordar em seu triste e
frio quartinho?
As fadinhas brilhavam com seus lindos cabelos, suas roupas que
voavam e dançavam em seus corpos. Tudo era encantamento naquele momento.
Uma das fadas agitando sua varinha disse:
─fademos, fademos maninha
este bem que nos fizeram quem quer que seja se for bela inda mais bela fique!
Mariazinha escondida em sua beleza de frágil menina se transforma
em uma bela jovem.
Outra fada rodopiando no ar diz:
─ fademos, fademos maninha
este bem que nos fizeram fazei que suas palavras sejam ouro que saiam de sua
boca.
A fada mais jovem disse:
─ fademos, fademos maninha este bem que nos fizeram fazei que
nasça uma estrela de ouro em sua testa.
Imediatamente Mariazinha viu em sua testa uma estrela que brilhava
mais que a estrela mais brilhante do céu.
Mariazinha voltou para casa, linda como jamais alguém vira tamanha
e encantadora beleza. Feliz! Ao sorrir e falar ouro caía de sua boca deixando
um rastro luminoso e belo! A estrela em sua testa brilhava muito chegando a
iluminar seu caminho.
O pai que triste chorava pela filha que sumiu pelas margens do
rio, abraçou-a feliz como nunca havia sentido felicidade igual.
Quem não ficou feliz foi sua madrasta e suas filhas invejosas. No
mesmo instante fez Mariazinha contar tudo o que houve. A menina contou, mas do
jeito que a vaquinha havia recomendado.
A madrasta logo mandou matar outra vaca, e deu os miúdos para suas
filhas fazerem como Mariazinha ensinou.
As duas com pressa colocaram os miúdos na gamela e como a
correnteza não queria ajudar, elas a empurrou com força até chegar na casinha
das fadas. Lá chegando cozinhou os miúdos sem limpar e sem nenhum tempero, o
mau cheiro daquela comida se espalhou por toda casa.
Como Mariazinha disse que fez elas sujaram e desarrumaram toda a
casa. Quando as fadinhas voltaram, elas se esconderam.
As fadas ficaram muito bravas com a maldade que sofreram e a mais
velha disse:
─ fademos, fademos maninha
este mal que nos fizeram faça que se for feia, mais feia fique.
As moças invejosas ficaram horrorosas, como ninguém vira coisa
igual.
A fada do meio disse:
─ fademos, fademos maninha
este mal que nos fizeram faça que ao falar seja merda que saia da boca.
A fada mais nova disse:
─ fademos, fademos maninha este mal que nos fizeram faça que nasça
um cocô de burro na testa.
As três invejosas saíram correndo e ninguém aguentava ficar perto
delas, pois exalavam um tamanho mau cheiro. A mãe ainda tentou remediar
tampando com um lenço o cocô da testa, mas qual nada ninguém suportava as suas
filhas.
Foi assim que as filhas e a mãe de tão infelizes acabaram
morrendo.
E novamente Mariazinha voltou a ser feliz com seu pai para o resto
de suas vidas!